Nascimento

Nasce um filho do Caos
 
 

CICLO MORDRED

1

NASCIMENTO

 

POR

NILS HIRSELAND

 

IMAGEM DA CAPA

STEFAN LECHNER

 

 

 

Título Original:

Geburtsstunde

 

Tradução:

Jorge Fraga

 

Revisão:

Márcio Inácio Silva

Marcos Roberto

 

Formatação final para liberação no Projeto Traduções:

Márcio Inácio Silva

 

Capa em português

Manuel de Luques

 

Conversão para os formatos ePub, PDF e Mobi:

José Antonio

 

Publicação não comercial

 

O projeto Dorgon — ciclo Mordred — é uma publicação não comercial do PERRY RHODAN ONLINE CLUB e. V.

 

A tradução para o Português do Brasil é feita com autorização de Nils Hirseland.

 

Perry Rhodan® é uma marca registrada

Verlagsunion Erich Pabel – Arthur Moewig KG (VPM KG), Rastatt, Germany,

Star Sistemas e Projetos Gráficos Ltda., Belo Horizonte, Brasil

www.projtrad.org/dorgon

dorgon@projtrad.org

O que aconteceu até agora

Em 1264 NCG há um pequeno grupo de pesquisa da organização dos imortais, Camelot, perto do planeta Neles que observam o desdobramento de eventos na nação emergente.

O casal de pesquisadores Ivan e Selina Despair têm de gerenciar um modo de fazer um primeiro contato pacífico com os nelesenses.

O casal está à espera de um filho. Eles não têm ideia de que o feto entra no foco de poderes desconhecidos. O Filho do Caos Cau Thon é enviado numa missão especial à Via Láctea.

Ele deve vigiar o NASCIMENTO de outro filho do Caos.

Personagens principais deste episódio:

Cau Thon – Um ser misterioso influencia decisivamente o desenvolvimento do filho de Ivan e Selina Despair.

Ivan Despair – Um tímido cientista.

Selina Despair – A esposa do líder da expedição está numa auspiciosa expectativa.

Arib’Dar e Prot’Gar – Dois Cavaleiros das Profundezas de Shagor.

Ron Horace, Darvynia, Eddie Alaban e Honorius Breank – Os membros da equipe de pesquisa da HAWKING.

Prólogo

Quem nunca amou, vai odiar para sempre.

Este provérbio ronda a minha cabeça. O que ele quer dizer?

O início de uma nova história nem sempre é óbvio à primeira vista. Eles estavam aplicando as suas experiências individuais nas outras pessoas, quando entram em contato com um evento especial. Era o início de uma aventura pessoal para todos.

Eu tinha experimentado um monte de histórias e escritos dos outros seres. Então eles me chamaram de cronista. Em meus 78 anos de vida eu tinha muitas vezes me ocupado com a história dos linguides, uma nação que tinha pisado no palco galáctico apenas recentemente e esteve no auge por um curto período de tempo como uma sucessora aos terranos.

Era uma ironia do destino que tenha sido apenas devido a uma confusão temporária da superinteligência AQUILO.

Em meu livro “Um linguide de AQUILO” eu tinha escrito sobre a era dos pacificadores num palco cósmico maior e seu triste declínio.

O sangue de linguide flui em minhas veias, apesar de meus pais serem de um lado terrano e do outro, arcônida.

Ah, e meu nascimento foi uma história em si. Mas isso levou a muita coisa agora.

Mas meus avós ainda eram metade linguide. Nossos antepassados viveram por gerações em Lingora. É certo que o que caracterizou a nossa família de imigrantes foi o nosso crescimento moderado de pelos e maior expectativa de vida sempre desconcertante para um linguide conservador.

Mas Lingora era a minha casa, mesmo que isso provavelmente me levasse à Terra algum dia. A história dos antepassados da minha mãe sempre me fascinou.

Enfim. Minha história começou, obviamente, neste momento em 1264 do Novo Calendário Galáctico. Sonhei que um homem velho apareceu. Ele me disse que um dia iria me revelar o segredo do meu nascimento. E então de modo amigável, embora com ênfase, me disse que doravante devesse cuidar da Crônica da Via Láctea. Eu deveria manter meus contatos com a organização dos portadores de ativador celular, Camelot.

No final, ele me disse que algum dia eu entenderia, mesmo que provavelmente levasse muitos anos.

Se era um sonho tolo ou se haveria realmente algo por trás disso, ainda era um mistério para mim, mas isso não poderia impedir de escrever algo sobre o estado desta galáxia.

Se haviam passado quase 120 anos desde que a tirania de Monos tinha sido superada, mas ainda hoje esta era escura causava fissuras profundas na organização política da Via Láctea. A maioria dos seres não conhecia sobre a era antes de Monos por experiência própria. Apenas os poucos relativamente imortais do círculo de Perry Rhodan e alguns halutenses tinham a idade necessária.

Os quase 700 anos da Idade das Trevas da Via Láctea foram precedidos por um período de paz.

Em 1264 NCG havia três principais blocos de poder dentro da Via Láctea: a Liga dos Terranos Livres, o Império de Cristal de Árcon e o Fórum Raglund. Nestes, as nações mais importantes e mais poderosas da galáxia estavam unidas, mas mostravam pouco acordo entre si.

Os eventos historicamente mais relevantes neste século foram a fundação do Império de Cristal e a organização Camelot. A reintrodução da monarquia em Árcon sublimou as ambições dos arcônidas de mais uma vez retomar a sua antiga liderança na Via Láctea. Após a morte da primeira Imperatriz, Theta da Ariga, Bostich, agindo sutilmente, parecia se tornar o estadista cada vez mais próximo do poder.

O isolamento mostrou para o portador de ativador celular e relativamente imortal Perry Rhodan que, aparentemente, o tempo que está sendo despendido no cenário político não guia mais a sorte da LTL. Teriam os terranos crescido e seriam capazes de encontrar um caminho sem Perry Rhodan?

Estes foram os eventos em nossa Via Láctea, que sabíamos. Mas a história sempre nos ensinou uma coisa: havia coisas em nossa galáxia das quais não tínhamos conhecimento. Neste momento talvez a minha visão tivesse um significado temporal...

Jaaron Jargon, em janeiro de 1264 NCG

Capítulo 1

O Filho do Caos

Deixe uma luz do imenso mar de estrelas mostrar-lhe o caminho certo.

Ele olhou para a superfície de ouro de sua lâmina e viu como as incontáveis estrelas brilhantes do céu refletiam-se nela. Lentamente, ele limpou o sangue amarelo da sua ponta.

Mais uma vez, ouviu o grunhido de seu oponente. Cau Thon agachou-se de joelhos, com a lâmina carit em suas mãos e esperou o fim. A batalha durou um longo tempo e agora a sua força estava no fim. Tinha sido um duelo desigual. Seu adversário estava camuflado e, portanto, sempre um passo à frente.

Este titã de Gah’Wesh era o guerreiro mais forte do mundo. Cau Thon o havia desafiado, mas agora em sua arrogância, ele provavelmente estava condenado. O ruído era a única evidência de que o inimigo estava próximo, porque a criatura flutuava silenciosamente para seu próximo ataque.

Cau Thon permaneceu ajoelhado, olhando para a ponta do seu cajado.

As estrelas lhe queriam mostrar o caminho. Elas se refletiam na lâmina carit. Cau Thon rolou para o lado, girou e atacou com a ponta de sua arma. Um grito alto. O som de algo batendo em carne e de osso perfurado o encheu de satisfação.

O campo de camuflagem de seu oponente tinha borrado a imagem refletida das estrelas por um rápido momento, por ter ele ficado atrás de Cau Thon, pronto para realizar seu golpe fatal final. Mas o filho de Caos tinha sido mais rápido. Ele havia esperado por este momento e venceu novamente.

Lindos e potentes relâmpagos atravessaram o corpo de seis braços de seu oponente, antes que o campo de camuflagem caísse definitivamente. Por um breve momento Cau Thon sentiu compaixão por esta criatura que morria. Tinha sido um adversário digno e tinha exigido muito dele. Cau Thon puxou a sua carit do corpo se contorcendo e golpeou uma segunda vez, para finalmente acabar com a vida do guerreiro.

“Você foi muito gentil com ele. Eu teria saboreado a sua agonia”, sussurrou uma voz mental em sua cabeça.

— Ele lutou bravamente e merece respeito — disse Cau Thon. — Mostre-se, Rodrom!

Não muito longe dele estava faiscando uma forma flamejante na escuridão. Ela estava completamente vermelha e cercada por uma aura de fogo. Até mesmo a cabeça estava coberta por um capacete vermelho. Apenas uma viseira deu a entender que provavelmente Rodrom tinha olhos. Cau Thon sabia o quanto Rodrom o odiava por usar um corpo. Ele desprezava profundamente todas as criaturas materiais. Afinal de contas, ele aceitou Cau Thon com base no mérito.

O Filho do Caos curvou-se para o seu Senhor e Mestre.

— Como eu posso ser útil?

— Eu tenho um trabalho para você. Embarque para uma galáxia chamada Via Láctea. No planeta Neles, você deverá vigiar o destino de um nascituro.

Uma criança?

Cau Thon ficou surpreso.

— Mais cedo ou mais tarde ela vai ser útil. Esta criança determinará o futuro deste universo. Transmiti mais informações para a memória de KARAN — esclareceu Rodrom.

— Às suas ordens — disse Cau Thon.

— Você tem de fazê-lo e não precisa entender os motivos da entidade. Eu não o culpo. Esta criança, se ela crescer de acordo com a nossa vontade, se tornará um filho do Caos, e vai manter um futuro adversário longe de nós.

— E qual é o nome desse inimigo?

— Perry Rhodan!

Capítulo 2

1264 NCG

A visão de uma galáxia desconhecida sempre foi um momento especial para Cau Thon. Então essa era a Via Láctea. Uma galáxia espiral de altura média, mas de uma beleza aparente.

Para ele, não havia nada semelhante à chegada do espaço intergaláctico em outra galáxia. Absorveu os detalhes do novo sistema de estrelas com um olhar, enquanto a sua espaçonave voava lentamente para mais perto e mergulhava na próxima fase do voo no hiperespaço.

Rodrom parecia ter tudo planejado exatamente no tempo. No dispositivo de armazenamento de dados da sua espaçonave KARAN, Cau Thon encontrou instruções detalhadas sobre o que ele tinha que fazer. Também estava descrito lá quem eram as pessoas — se chamavam terranos, seres humanoides, como ele — e em que planeta seriam encontradas.

Seu objetivo era Neles. Era um mundo insignificante com primitivos habitantes. Os alvos, no entanto, eram mais desenvolvidos. Eles pertenceriam à organização chamada Camelot, que era liderada pelo futuro inimigo Perry Rhodan.

Cau Thon ficou surpreso por saber que Rhodan era um portador de ativador celular. Afinal, eles tinham uma coisa em comum, portanto, mesmo que Rhodan fosse aparentemente alguns milhares de anos mais jovem. Depois Rhodan havia desafiado seus companheiros também relativamente imortais, algumas superinteligências e até mesmo Cosmocratas e Caotarcas.

Rhodan se havia recusado a receber a resposta à terceira pergunta final na Montanha da Criação. Isto provou claramente que este Perry Rhodan era um grande gozador e que não devia ser subestimado. As informações restantes eram escassas, ameaçando sufocar seu pensamento racional em pura raiva. Kahaba, o velho inimigo de seu mestre, metera as suas patas no jogo.

O que Rodrom determinava exatamente a Cau Thon com relação a este nascituro não estava claro. A criança deveria lidar com Perry Rhodan algum dia? Depois Rodrom tinha falado do nascimento de um novo filho do Caos.

Rodrom também começou a esticar seus tentáculos nesta região do Universo. Ele forçou a expansão de uma antiga estação numa galáxia chamada Saggittor que estava entretanto muito afastada para o gosto de Cau Thon, muito longe da ação. Obviamente, o inimigo estava ativo, mesmo nesta parte do espaço e parecia se reforçar. Rodrom aparentemente queria passar despercebido e assistir de longe. Provavelmente seu mestre sabia dos acontecimentos muito antes de eles acontecerem.

***

Após algumas horas em voo no hiperespaço, a KARAN mergulhou no universo normal, chegando à borda do sistema solar. O planeta Neles era o quarto de dezessete mundos que orbitavam um sol amarelo. Neles tinha um diâmetro de 9.467 km e uma gravidade de 0,98 gravo. O que era adequado para Cau Thon, por corresponderem a valores normais para a sua raça. Oito pequenos continentes num mundo que era rico em água. Quase cinco bilhões de seres povoavam Neles.

Neste sistema, não havia atividade espacial apreciável. Primitivos satélites circulavam em órbita de Neles. Sondas de aparência arcaica voavam através do sistema, aparentemente, destinavam-se à obtenção de mais informações para os habitantes do planeta, sobre o seu próprio sistema solar.

Também estava em órbita uma nave esférica de cem metros que realizava investigações científicas através de medições para a organização Camelot em torno de Neles. Eles usavam um disfarce simples, com o que se ocultavam dos telescópios e satélites dos nelesenses, e também não localizaram a KARAN. Cau Thon riu. Qual era o padrão tecnológico desta galáxia? — Ridículo!

Naquele momento, ele lamentou por estar sozinho a bordo da KARAN. Os 120 maçantes e cinzentos zievohnes não eram bons interlocutores. Embora fossem biologicamente coisas vivas, eles agiam mais como robôs.

Cau Thon havia renunciado a uma guarnição de soldados skurits. Ele queria realizar estas operações discretamente. E mesmo se os skurits estivessem a bordo, eles também permaneceriam em silêncio.

Não, ele teria gostado de ter um irmão de espírito, porque enquanto viajava sentia um monte de tédio. Mas, até agora, Cau Thon nunca se encontrara, em todas as suas missões, com um ser que provasse ser digno de ser um novo filho do Caos. Talvez o nascituro fosse, em alguns anos, digno para ser o novo filho do Caos?

Cau Thon teve uma amostra da espaçonave terrana ao executar e comparar os resultados com os dados que Rodrom o havia dado.

Esta nave era um módulo do tipo laboratório do cruzador VESTA.

O armamento deste cruzador consistia em vários escudos defensivos e uma artilharia média de impulsos. A espaçonave fora projetada exclusivamente para tarefas de pesquisa, o equipamento consistia principalmente de vários radiotelescópios, pás sensoras e analisadores estruturais.

A tripulação era composta por seis humanoides e mais duas formas de vida alienígena que não eram imputáveis ao genoma humano. Cau Thon tinha interesses especiais em duas das pessoas. Eram os terranos Ivan e Selina Despair, um casal, ambos cientistas que trabalhavam para Camelot.

Os pais do nascituro...

Após uma extensa análise da espaçonave de nome HAWKING era hora de realizar o próximo passo.

Por um curto impulso de hiper-rádio, ele transmitiu um vírus que infectou a rede de computadores sintrônicos da nave esférica. Também aqui a mais primitiva tecnologia. O vírus silenciosamente espionou dados e transferiu-os para o módulo central do KARAN. Cau Thon estava especialmente interessado no diário de bordo de Ivan e Selina Despair. Eles iriam fornecer-lhe alguns pontos de partida para um contato...

O terrano não lhe era muito diferente, mas seu cabelo e a sua pele não eram vermelhos. Cau Thon gostou de Selina Despair, apesar do cabelo louro na cabeça, uma fêmea atraente, embora primitiva, mas...

Não, o que ele estava pensando, não era esse o objetivo de seu mestre. Ele concentrou-se e começou a vasculhar os dados que estão sendo transferidos.

Os Despair eram pessoas comuns e, como cientistas, também sem méritos especiais. Eles se conheceram durante os seus estudos na Academia Waringer na Terra. Terra era, portanto, o mundo principal dos povos terranos, ao qual Perry Rhodan também pertencia. Aparentemente, no entanto, houve diferenças entre os imortais e as pessoas normais citadas por que Rhodan havia fundado com seus companheiros uma organização chamada Camelot. Ivan e Selina tinham seguido Rhodan por convicção e trabalham agora na ajuda ao desenvolvimento dos povos pré-estelares.

O mundo Neles é um deles. A população humanoide não conhecia nenhuma atividade entre sistemas solares. Eles tinham conseguido de fato enviar alguns primitivos satélites para a órbita do planeta azul com os seus oito continentes, mas para Cau Thon esta tecnologia era apenas ridícula. Ele pensou em destruir todos os satélites primitivos. Teria sido um prazer ver o pânico e confusão dos nelesenses. Mas para a sua missão esta ação não teria sido útil.

Cau Thon procurou novos registros. Por conseguinte, os nelesenses não tinham sequer descoberto o voo espacial humano e eram, alegadamente, contra o invento pioneiro de um propulsor com uma velocidade simples de luz. Os oito cientistas de Camelot deveriam acompanhar esta evolução e, obviamente, fazer um primeiro contato. Cau Thon entendeu rapidamente os relacionamentos. Havia uma série de potências rivais na galáxia. Camelot queria impedir que o Império de Cristal arcônida ou o Fórum Raglund tomasse conhecimento dos nelesenses e queria preservá-los de uma possível exploração. Mesmo o seu próprio bloco de poder, a Liga dos Terranos Livres, não parecia de confiança a este relativamente imortal.

O Filho do Caos sentiu esta tentativa como extremamente ingênua. Mesmo que Neles não fosse parte de um império era o curso natural das coisas, que qualquer interesse econômico de forma “legal” explorasse este mundo. Os nelesenses concordariam, por sua própria ganância, e com isso provavelmente não vivessem em prosperidade e liberdade, mas em função das empresas extraterrestres ou nações.

Cau Thon preferia o contato direto de culturas. Era uma mera hipocrisia, acreditar nos direitos civilizados, que apenas algumas elites tinham. Mas um dia, entraria em colapso toda a construção desta ordem como um castelo de cartas. Em seguida, o Caos reinaria. E aí uma nova ordem de justiça surgiria.

Essa era a sua visão.

Essa era a sua filosofia.

E a descendência deste casal de cientistas terranos deveria um dia acelerar esses planos.

A tripulação de oito membros era apoiada no controle da espaçonave por 15 robôs. Entre eles estavam três robôs de combate da chamada série MODULA e dois robôs de combate da série TARA V UH. Os dez restantes eram robôs do serviço médico ou de robôs de serviço geral.

Cau Thon olhou para os arquivos dos restantes membros da tripulação.

O terrano Eddie Alaban era cosmopsicólogo e era considerado um cristão conservador. O que era, obviamente, uma religião. A ferrônia de pele azul Darvynia era ao mesmo tempo uma astrônoma e uma funcionária auxiliar. Ron Horace, um plofosense angular, que era um dos povos coloniais terranos era responsável pela segurança. Thon tinha que ter cuidado com ele. O gaiano Honorius Breank era médico. É possível que ele ainda tivesse um papel em seu plano.

Os outros dois membros da tripulação não eram importantes. Eles eram os responsáveis pela operação da espaçonave. Um unitro de nome Dytch e um Julziish. Enquanto o trombudo era responsável pela casa de máquinas, o cabeça de prato gatasense Vulitaar Ockguuhn pilotava a espaçonave.

O Filho do Caos abriu uma entrada de diário de bordo do Ivan Despair. O relatório foi classificado como “um registro privado”. O que tinha para dizer o cientista do mundo colonial terrano Nosmon? Quais eram seus pensamentos? Ele possuía quais fraquezas?

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

23 de março de 1264 NCG

Agora, já observamos o planeta Neles há 68 dias. Nossa equipe conseguiu neste período algumas informações valiosas. Temos também muitos dados da infraestrutura, da sociedade e da política, assim como dos avanços tecnológicos.

A cultura e a sociedade da população lembram fortemente a da Humanidade na Terra no século 20. No entanto, devido às muitas guerras, estavam sensíveis em se unirem numa causa comum. Assim, eles não precisam de um Perry Rhodan para se unir. O processo não estava concluído, mas eles estavam no caminho certo.

A maioria dos estados estava organizada democraticamente. As formas de religião eram fracas. Todas as nações de Neles se associavam no desejo de explorar o espaço a fim de evitar uma escassez de recursos em seu planeta. Eles sabiam claramente que a luta pela água doce, combustível e comida acabaria por levar de volta à guerra de uns contra os outros. Eles estavam maduros o suficiente para serem apresentados à comunidade interestelar da Via Láctea.

Com base em nossa análise, eu fixei hoje a data para o primeiro contato: esta deve ser levada a cabo em 1 de Maio de 1264 NCG.

Eu só estou certo de que gostaria de voltar mais cedo do que planejado para Camelot. A notícia da gravidez de Selina me surpreendeu há um mês.

Oh, minha querida Selina. Você sempre foi boa para surpresas. Ironicamente, durante nossa expedição de repente estávamos em alegre expectativa. Bem, eu não sou indiferente a este fato e estou feliz de todo meu coração com o nosso primeiro filho.

Eu amo Selina e não é realmente importante onde estamos na Via Láctea. Onde ela estivesse, seria a minha casa. Onde ela estiver, eu estou feliz. E esse sentimento só será muito mais intenso quando houver três. Eu mal posso acreditar na minha sorte. Ela é a única que um tímido cientista como eu poderia querer. Ironicamente, uma grande mulher, tal como Selina. A vida tinha sido boa para mim. E já é tempo de retribuir com algo.

Os habitantes do planeta Neles ganharam um bom futuro. Eles devem saber o que esperar quando realizarem o seu primeiro voo com a velocidade da luz. É justo adverti-los dos perigos do espaço e lhes ensinar sobre as vantagens e possibilidades.

Os nelesenses devem conhecer os terranos, arcônidas, blues, tópsidas e outros povos, mas não serem ocupados e explorados por eles. O clima na Via Láctea está muito tenso para o meu gosto.

A doutrina grigoriana e nosso encoberto Primeiro Terrano me conquistaram há cinco anos. Apesar de ter nascido em Nosmo, como um estudante na Terra, acostumei-me com a vida lá. Eu e Selina nos conhecemos e amamos. Se ela não tivesse aparecido, eu nunca teria lutado até esta fase. Mas os últimos cinco anos em Camelot tinham sido bons anos. Não havia nenhuma disputa e não há rivalidades entre grupos étnicos. Além disso, os portadores de ativador celular eram criaturas muito afáveis e não semideuses arrogantes, como fomos levados a acreditar na Terra.

Na minha primeira reunião com Perry Rhodan, tremi os joelhos, mas ele tinha sido tão gentil e afável como todos os portadores de ativador celular eram, embora eu não tivesse meios de conhecer todos. Reginald Bull, Atlan, o pequeno e bonito Gucky e seu amigo poderoso Icho Tolot. A visão do halutense sempre foi algo especial. Aqui este espécime era pacífico e educado, embora naquela época eu tivesse muito medo dele. Os portadores de ativador celular nos fizeram sentir parte de seu trabalho e ser uma parte importante de Camelot.

Eu tenho a sensação de ser parte de algo significativo. Meu trabalho é apreciado e faço uma contribuição significativa na qualidade de observador das civilizações pré-interestelares.

O que eu poderia quer mais?

***

Tocante! Despair era um fraco, um idealista romântico. Cau Thon agora percebia que ele provavelmente teria que ficar neste sistema solar deserto por muito tempo.

Demoraria nove meses antes que a mulher desse à luz. Ele ainda não podia entrar em atividade. A primeira fase de seu plano poderia, portanto, realizar-se apenas após 1 de Maio da era local em relação ao Filho do Caos. Um contato com a nave de Camelot não era aconselhável.

Tinha que ser feito em Neles.

***

Na noite de 30 de Março, os oito cientistas sentaram-se num círculo íntimo na sala comunitária da HAWKING e jantaram no local. Cau Thon vigiava as câmeras. Nenhum dos participantes sabia que as câmeras estavam funcionando.

— O muurtwurm está saboroso, delicioso! — o chamado blue estava satisfeito com a sua refeição de sobrevivência. O que Cau Thon podia dizer após todas as expressões do rosto do outro?

— Eu prefiro um bife à la Plofos — disse Ron Horace e esfregou as mãos sobre o prato grande.

Aparentemente, cada membro da tripulação tinha que preparar a sua própria refeição. Os cientistas de Camelot pareciam estar muito bem a bordo de sua pequena nave espacial de pesquisa.

Selina estava alimentando seu marido carinhosamente com uma porção de seu macarrão. A ferrônia Darvynia viu e deu uma risada alta.

Em contraste, Eddie Alaban rezou antes de começar a comer. O unitro agarrou a comida com a tromba e depois enfiou-a em sua boca grande.

O médico de bordo Honorius Breank sorria aqui e ali, mas falava pouco. Ele era tímido e reservado. Quanto mais ele bebia vinho, no entanto, mais falante ficava.

Ivan Despair levantou-se e ergueu a taça. Cau Thon tinha aprendido que era um brinde, um costume terrano para ocasiões especiais.

— Vamos começar com a criação da estação temporária em três dias. A construção provavelmente levará duas semanas. Então gostaríamos de dar o próximo passo importante — anunciou o líder da expedição.

— À Neles! — disse Eddie Alaban, erguendo o copo.

Os outros repetiram o pequeno brinde criativo.

— Eu verifiquei o gerador de camuflagem e testei novamente — declarou o unitro Dytch. — A menos que os nelesenses tropecem diretamente na nossa estação, eles não vão ver ou localizar qualquer pessoa.

Ivan Despair agradeceu aos seus técnicos e disse que era hora de encher o estômago.

— Você já tem um nome para o bebê? — perguntou a mulher de pele azul com uma pouco atraente testa abaulada. Ela era uma ferrônia. Os ferrônios estavam entre os aliados mais antigos dos terranos.

Nos dias pioneiros Perry Rhodan tinha ido ao vizinho sistema Vega, ao buscar a superinteligência local.

— Geoffrey Abel ou Arno — Ivan respondeu.

Selina deu-lhe um tapinha no ombro.

— E se for uma menina? Além disso, eu não gosto de nomes de cientistas. Arno ou Geoffrey Abel soa tão velho...

Ela fez beicinho e mexeu com um garfo a sua caçarola de macarrão.

— Albert ou Steven também seria uma possibilidade — disse Ivan com um sorriso de satisfação.

Os dois riram cordialmente e se beijaram. Os outros seis olharam para eles com um certo constrangimento. Darvynia suspirou.

— Oh, eu também gostaria de ter novamente um companheiro, ou não necessariamente um companheiro, mas uma criança seria o meu sonho...

Ela olhou para Ron Horace e limpou a garganta. Ela teve de reconhecer que ele era um assunto desconfortável pois ele não tinha interesse numa ferrônia. Isso era compreensível. Embora fossem anatomicamente compatível e seguro, o senso de beleza era pronunciadamente muito diferente, mesmo entre os humanoides.

— Oh, eu estou contente de ter alguns meses de intervalo entre meus 27 filhos. Sempre aos gritos e brigas — disse Vulitaar Ockguuhn, em seguida, olhou para o muurtwurm se remexendo.

— Sim, meu pequeno petisco, eu lhe como agora! — então ele enfiou o réptil ainda se mexendo na boca em seu pescoço caule. O molho pingava.

— Você deve melhorar seus modos à mesa, meu amigo — advertiu Eddie Alaban.

— O que você quer dizer? — saltou o blue, enquanto um pedaço de muurtwurm se pendurava por fora de sua boca.

Os outros riram cordialmente. O clima entre a tripulação era excelente. Eles se divertiram juntos e gostavam uns dos outros de forma muito clara.

— O que é que você realmente fez com a sua prole, Dytch? — perguntou Alaban.

— Ah — o unitro acenou. — Minha Farytha está grávida, mas ainda no mês 32. Isso demora mais. Eu sei a data do nascimento. Até lá nós teremos completado a missão.

Cau Thon temia que o trombudo estivesse errado. Provavelmente ele nunca iria ver seu filho. O Filho do Caos teve o suficiente dessa alegria despreocupada.

Era hora de algum treinamento de combate e meditação subsequente.

Capítulo 3

As preparações

Inclusão de Selina Despair no diário de bordo

18 de abril de 1264 NCG

A nossa pequena base secreta em Neles está completa. Embora a paisagem rochosa de camuflagem esteja longe de parecer um paraíso, o que queríamos agora é passar despercebidos e estar preparados finalmente para o primeiro contato com os nelesenses.

Dytch tinha razão. O campo de camuflagem nos fez invisíveis para os nelesenses. O space-jet não foi localizado e trouxe livremente os componentes do transmissor para o lugar selecionado. Após a instalação do transmissor o tráfego entre a nave e a estação foi feito somente por este meio.

Talvez tenhamos tido sorte por ninguém ter tropeçado em nossa estação, mas nós levamos um longo tempo procurando por um local adequado e o encontramos.

Dois membros da expedição permaneceram na nossa espaçonave HAWKING, enquanto os outros seis ficam na estação.

Dytch e Vulitaar Ockguuhn não vieram ao planeta. Eles foram designados para a operação da HAWKING, pelo receio da reação dos nelesenses ao aspecto do unitro e do blue.

É claro que eu me senti um pouco triste que meus dois colegas simpáticos não puderam participar dos momentos especiais da nossa expedição, mas os nelesenses não conhecem a diversidade galáctica. Em algum momento, isso mudará.

Os nelesenses estão divididos em vários estados e nações, mas procuravam cada vez mais um governo mundial, e muitos dos quais têm mantido um governo continental.

Ivan pensa que os nelesenses poderiam sair em dois anos de seu sistema. Se eles se reunissem aos povos da Via Láctea, seria no verdadeiro sentido da palavra nas estrelas. O sistema solar está isolado de mundos habitados e rotas comerciais usadas.

No entanto, os camelotianos queriam ser os primeiros extraterrestres que os nelesenses conheceriam.

Luratz Jomahr é o presidente da organização mundial. Essa estrutura é uma espécie de associação livre de estados, e representa os interesses econômicos e políticos dos Estados-Membros.

Nós ponderamos sobre isso por muito tempo. Pareceu-nos ter mais sentido entrar em contato primeiro com Jomahr. Ele tem acesso a todos os principais nelesenses neste planeta.

Fomos capazes de aprender muito sobre os nelesenses. Após um século de guerras, as nações foram autoabsorvidas e renunciaram a reivindicações territoriais e à exploração de seu próprio povo. A chamada organização mundial foi fundada e a tecnologia espacial reforçada. A tecnologia das guerras e design de mísseis estavam agora sendo usados para desenvolver espaçonaves. Assim, um propulsor para atingir a velocidade da luz foi concebido. Pelo menos em teoria.

Nossa equipe analisou os padrões. Na verdade, havia uma grande chance de que na construção da espaçonave os nelesenses conseguissem dominar a velocidade relativista e, assim, nada mais ficaria no caminho da colonização do sistema pátria.

Os nelesenses sabiam que a superlotação e a falta de recursos acabariam por conduzir ou novamente para a guerra ou forçar a explorar a espaço. Após quase serem extintos, escolheram o caminho da ciência e da pesquisa.

Entendi desta forma. Este projeto me fascinou desde o início. Nós só tínhamos aprendido de livros didáticos, o que era ser um pioneiro nas viagens espaciais: as viagens de Perry Rhodan à Lua, Vênus e ao sistema de Vega.

Através dos nelesenses, eu era capaz de testemunhar esta fase emocionante do desenvolvimento de uma civilização.

Havia apenas uma coisa na minha vida, que me enchia de mais felicidade: esta criatura pequena, que crescia lentamente em minha barriga.

Meu Bebê!

Era quase sobrenatural a sorte que Ivan e eu tivemos. Nós nos amávamos, tínhamos um trabalho interessante que nos satisfazia e esperávamos nosso primeiro filho.

Oh, eu mal posso esperar. Apenas seis meses antes de poder segurar meu pequeno bebê em meus braços pela primeira vez. Ivan fica às vezes preocupado comigo. Ele está com medo do que poderia acontecer para mim e nosso filho.

Mas o que poderia acontecer conosco aqui?

Inclusão de Selina Despair no diário de bordo

29 de abril de 1264 NCG

O tempo mudou abruptamente nos últimos dias. A umidade e a névoa desapareceram e agora o sol estava brilhando. Estava bastante quente e eu aproveitei meu tempo livre com banhos de sol abundantes.

Eu invejava Darvynia. Ferrônios não suavam enquanto meus poros terranos secretavam muito suor no calor escaldante. Realmente faltava apenas uma praia, mas logo nós provavelmente iríamos nos mover livremente em Neles. Havia muitas belas regiões no planeta.

À noite, arrefeceu um pouco. Os preparativos para o primeiro contato com Luratz Jomahr foram planejados com cuidado até o último detalhe. Ivan, minha amiga Darvynia, o cosmopsicólogo e ético Eddie Alaban e nosso especialista em segurança Horace Ron sentaram-se comigo na entrada da nossa estação. Pensei no calor e no dia decisivo de amanhã.

Amanhã de manhã, Ivan enviará uma mensagem de rádio para Jomahr e pedirá uma reunião. Para ressaltar a nossa credibilidade, a HAWKING por um momento deverá desativar nosso campo de camuflagem e, assim, provar aos nelesenses nossa existência.

No entanto, apenas Jomahr saberá as coordenadas e o momento em que será desativada a camuflagem da espaçonave. No entanto, também era bem possível que outros astrônomos descobrissem acidentalmente a HAWKING. Mas se tudo correr de acordo com o plano, em breve toda a população deste planeta será informada sobre a nossa existência.

Darvynia ficou bastante excitada nessa noite. Ela falou várias vezes do meu bebê e está ansiosa para ser madrinha. Ela andou cada centímetro falando da sua ideia para o quarto do bebê.

Eu sabia que Darvynia desejava uma criança, mas não tinha sorte com homens e mulheres. Seu último caso de amor com um funcionário glosnekiano acabara porque eles não conseguiram concordar com o plano de financiamento para uma criança comum e o custo da inseminação artificial. Eles tinham separado e Darvynia tinha sofrido por um longo período de tempo. Darvynia estava sozinha e às vezes eu fico preocupada pela sua estabilidade psicológica. Ivan está com medo de que ela fique muito concentrada em seu papel como madrinha. Talvez ele esteja certo, mas até então ainda há tempo.

Eddie Alaban filosofou sobre a religião em Neles. Os fiéis cristãos provavelmente esperavam secretamente que uma missão cristã pudesse crescer em Neles.

Tive pouco contato com religiões. Havia tantas delas. Além do cristianismo, o islamismo e o budismo eram predominantes na Terra e nos seus mais próximos mundos coloniais, mas havia muitas variações a dividi-los. Havia colônias onde a Igreja e o Estado não estavam separados. Havia também as novas teologias dos arcônidas, blues, tópsidas e todos os seus povos coloniais.

Lembrei-me de um novo movimento, os “Filhos da Fonte de Matéria” de um pai Dannos. Eles viam nos Cosmocratas os arautos de Deus e nas Fontes de Matéria meios de entrar no paraíso. E essas seitas e grupos estavam por toda parte na Via Láctea.

De alguma forma eu admirava o bom Eddie por sua resistência e a sua força de fé. Eu não teria essa paciência. Depois Eddie era realmente um crente, mas moderado em sua visão de mundo. Caso contrário, ele não seria cosmopsicólogo mas gostaria que cristãos ultraconservadores ou muçulmanos vivessem num mundo isolado e de acordo com leis antiquadas e desumanas que foram escritas muito tempo antes de um Perry Rhodan ter catapultado a Humanidade para uma nova era.

Como o meu filho crescerá? Será que ele terá uma religião? Quais serão os seus interesses e preferências? Que profissão ele ou ela aprenderá? Provavelmente é inútil pensar sobre isso.

Eu descobrirei isso em algum dia, enquanto estivesse acompanhando meu bebezinho ao longo de sua vida.

Capítulo 4

O primeiro contato

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

01 de maio de 1264 NCG

Gostaria de saber quem estava mais animado. Luratz Jomahr ou eu e minha equipe? Eu me senti como se Perry Rhodan pessoalmente olhasse por cima dos meus ombros.

Eu não queria cometer um erro. Se eu falhasse, o que isso significaria para o futuro deste mundo? Neste momento, eles estavam à beira de ver com seus próprios olhos que não eram únicos no Universo.

Palavras erradas ou gestos interpretados erroneamente poderiam levar a um desastre. Meu coração estava batendo até o pescoço. Somente o delicado aperto de mão de Selina me acalmou um pouco.

Nós tínhamos escolhido um belo parque nacional como local de encontro. Uma vez que esta região era considerada uma reserva natural, ali não moravam nelesenses. Além disso, as vastas estepes abertas ofereciam espaço para pousar o space-jet. Nós não pousamos o space-jet na frente deles, mas utilizamos o nosso planador pelo resto do caminho.

Nós queríamos mostrar aos nelesenses que não tínhamos nada a esconder e por outro lado, saber se eles estavam avançando com as suas forças armadas.

Mas a presença militar era exequível e razoável, naquele dia ensolarado. Além de Selina, Eddie Alaban, Ron Horace e Darvynia eram os meus companheiros. Eu não sou exatamente um orador excelente. Minha timidez sempre me acompanhou. Oh, eu me pego pensando o quanto gaguejara para persuadir Selina a um primeiro encontro. Ela — como hoje — apenas pegou minha mão, sorriu e me incentivou.

Eddie era o melhor orador de nós. Como um pastor, ele estava acostumado a falar à frente das pessoas e da natureza.

Ron Horace, no entanto, era um temerário taciturno que via perigos em toda parte e bancava o herói. Ele não falava muito. Não porque ele estivesse com medo da conversa com outras pessoas, como no meu caso, mas porque ele não tinha muita vontade de falar com os outros seres. Isso fazia uma enorme diferença.

Darvynia estava secretamente de olho em Ron, que não queria saber da ferrônia. Ele até já dera a entender que repelia as investidas da testuda. Ela queria muito um filho, mas, provavelmente, por enquanto seus sonhos não seriam realizados.

Eu tinha expressado minhas preocupações de que Darvynia talvez visse um substituto em nosso bebê, mas Selina dissera que não era o caso e que eu deveria mostrar compreensão pela sua solidão.

Demoraria alguns meses até o nascimento do nosso filho. A prioridade agora estava no primeiro contato. A Organização Mundial dos nelesenses organizou este encontro sob o mais estrito sigilo.

A Delegação dos nelesenses nos aguardava.

Havia chegado a hora. Nós estacionamos nosso planador cerca de cem metros à frente dos veículos a motor dos nelesenses.

Eu e Selina fomos os primeiros a nos mostrar aos habitantes de Neles. O vento soprava suavemente através de cabelo louro e sedoso de Selina. Ela me deu um sorriso e me deu a força e a vontade de não agir como um idiota na frente dos habitantes deste planeta.

Horace, Alaban e Darvynia nos seguiram a poucos metros de distância.

Luratz Jomahr também começou a se mover e veio com quatro nelesenses até o nosso grupo.

Já tínhamos aprendido a língua dos nelesenses há algum tempo, então uma conversa não foi um problema.

Eu respirei fundo e estendi a minha mão. Lomahr olhou para mim perplexo, então ele a pegou. Eu apertei a sua mão suavemente. Ele pareceu entender e soltou um ronronar. Ele agarrou o peito e curvou-se três vezes rapidamente. Eu sabia que era a saudação dos nelesenses, e a respondi, embora eu estivesse um pouco tonto.

— Bom dia! Meu nome é Ivan Despair. Eu sou um emissário do mundo Camelot, e eu sou do povo terrano. Viemos em paz.

O primeiro discurso foi feito.

Jomahr e outros nelesenses ouviram as palavras. Em óbvia surpresa, ele olhou para a nossa delegação.

— Você fala a minha língua! — foi a primeira coisa que disse.

Eu estava sorrindo.

— Nós estudamos seu idioma. Minha equipe e eu estamos observando Neles já há quase um ano.

O planeta Neles orbita seu sol por dez meses e meio, e é, portanto, semelhante à Terra. A gravitação é quase idêntica.

Jomahr olhou para seus homens. Eles sinalizaram-lhe permissão.

— Dou-lhe as boas-vindas à Neles. Meu nome é Luratz Jomahr. Eu sou o presidente de nossa Organização Mundial de Neles. Diga por que vocês estão aqui?

— Não podemos falar em outro lugar? — sugeriu Selina antes.

Minha esposa estava certa. Este prado verde era bom, mas talvez não fosse o lugar apropriado.

— Oh, é claro. Onde estão as minhas maneiras? Por favor, venham comigo!

Jomahr escoltou-o e aos outros três para um desses veículos primitivos, que os levou a um campo de contêineres, que tinha as forças militares e de segurança da organização mundial aparentemente formados com pressa.

Foi-nos servido um banquete de gala. A cozinha estava excelente e o sabor nelesense agradou a todos. Conversamos durante muitas horas e minha equipe conseguiu quebrar o gelo. Então eu disse a Jomahr: — Desde que seu povo irá em breve ser capaz de voar para outros mundos, eu queria primeiro esclarecer a situação na galáxia e prepará-lo para o contato com os diversos povos.

Jomahr parecia confuso.

— Seu gesto é muito nobre, mas soa como se houvesse perigos lá fora?

— Ah, é verdade. Há povos que suprimiriam a sua autossuficiência. Decidimos fazer contato primeiro com vocês, assim poupamos Neles deste destino.

— Como sabemos se não são vocês que irão nos dominar? — perguntou o chefe de segurança com suspeita.

— Você tem que confiar em nós. Mas se nós tivéssemos vindo com intenções hostis, não teríamos nenhuma necessidade, devido o nosso nível tecnológico, de falar com você.

Estas palavras tiveram o seu efeito. Muito rapidamente, mostramos aos nelesenses que eles eram apenas um pequeno ponto na Via Láctea. Por isso, a cooperação que Camelot oferecia a este mundo tinha apenas vantagens.

— Eu confio em você — Jomahr falou em nome de seu povo.

Eu soltei um suspiro de alívio. O contato inicial foi um sucesso!

Capítulo 5

 A próxima fase do plano

Cau Thon esfregou os olhos. Ele estava cansado e nervoso com este interminável relatório deste imbecil e fraco Ivan Despair. Os registros de sua esposa não eram mais emocionantes.

— Tudo é bom. O sol está brilhando, as flores desabrocham e todos os nelesenses nos amam — Cau Thon murmurou para si mesmo.

Então ele suspirou e escondeu o rosto entre as mãos. Há muito tempo ele não podia mais suportar esses registros chatos, sentimentais e felizes.

Era hora de agir!

Os camelotianos foram para algumas casas fornecidas nos arredores da capital Wrongton, onde trabalharam em conjunto com os principais cientistas de Neles no desenvolvimento do propulsor.

Os nelesenses usavam o processo de fissão para produzir energia. Eles acreditavam que tinham encontrado na energia nuclear uma forma limpa de energia, e a radioatividade dos resíduos seria degradada novamente pela erosão natural. Que idiotas!

Os camelotianos prometeram aos nelesenses ajudá-los no desenvolvimento de sua produção de energia.

É nisso que Cau Thon viu um maravilhoso ponto de partida.

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

17 de julho de 1264 NCG

Eu estava sem palavras!

Aparentemente por uma eternidade fiquei sentado em silêncio e imóvel na frente do dispositivo de entrada para esse log.

O que eu deveria escrever?

A preocupação com Selina era muito grande. Por que isso foi acontecer? Por que o campo defensivo falhou? Como isso pôde acontecer?

Houve um incidente num bloco reator de uma usina nuclear. Selina tinha ido lá para mostrar aos cientistas como eles poderiam melhorar a eficiência e a segurança dos reatores.

Tarde demais!

Aparentemente, houve uma falha técnica, para a qual não havia explicação. Os cientistas estavam perplexos e os operadores da usina nuclear eram muito ignorantes. Eles minimizaram o incidente na mídia, embora uma fusão tivesse ocorrido. Nós oferecemos um campo defensivo que a HAWKING estenderia ao redor da área da usina nuclear, mas Jomahr instruiu-nos a não interferir nos assuntos internos. A empresa operadora desfrutava de sua total confiança.

Selina foi exposta a uma radioatividade muito elevada, enquanto tentavam fechar o vazamento. Pelo menos ela pensou que estaria protegida pelo campo defensivo da radioatividade, mas este falhou e agora eu estou muito preocupado com danos permanentes a ela e a nosso filho por nascer.

Breank, nosso médico de bordo investigou exaustivamente e iniciou as medidas corretivas para prevenir danos às células de Selina. Ele me disse que tudo está sob controle e eu não me devia preocupar.

Breank tinha falado bem. Sim, só que não era a sua esposa e filho.

Eu queria abortar a expedição, mas Selina foi mais uma vez mais forte do que eu e me convenceu do contrário. Ela disse que ela e o bebê estavam bem.

***

O próximo passo fora dado. Cau Thon se divertira muito com os relatórios desesperados de Despair. Enquanto isso, o Filho do Caos tinha conseguido modificar o seu vírus. Ele agora tinha infectado os robôs a bordo da HAWKING e também assumira ainda mais o sistema de controle da nave.

Capítulo 6

Os Cavaleiros de Shagor

A longa jornada chegou ao fim.

Arib’Dar acariciou a sua cabeça calva e olhou para o seu companheiro, o cavaleiro Prot’Gar, que mais uma vez estava ocupado comendo. Seu ex-aluno não dava muito valor ao seu perfil e a sua aparência. Mas, apesar da sua corpulência, ele era surpreendentemente ágil.

Arib’Dar, ao contrário, era dono da sua vida, de sua saúde e de seu corpo. Apesar de algumas pequenas doenças como dor nos joelhos e tensão no pescoço e nas costas, estava com mais de duzentos anos, e em boa forma. Será que alguma vez Prot’Gar poderia dizer que era tão velho quanto seu mestre cavaleiro?

— O quê, senhor? Sou um rapaz forte e tenho de manter o meu peso — disse o elare como se ele pudesse adivinhar os pensamentos do cavaleiro.

Eles tinham viajado mais de cinco milhões de anos-luz desde o início de sua jornada. Sem o portão estelar, eles nunca teriam atravessado a distância gigantesca de 325 milhões de anos-luz desta galáxia.

Arib’Dar pensou sobre a sua missão. O que os aguardava na Via Láctea? Que perigos estavam à espreita dos dois Cavaleiros das Profundezas?

As palavras dos Cosmocratas tinham sido difundidas, da forma que esses seres superiores comumente faziam.

“Faça o seu caminho para a galáxia Via Láctea e impeça o nascimento do Filho do Caos por todos os meios. Se a sua missão for bem-sucedida, os Cosmocratas vão aceitar o seu pedido renegado.”

O pontanare Arib’Dar não estava confortável com esta missão. Ela contradizia o Código de Jedar Balar, de não intervir em assuntos fora de Shagor. Eles eram os guardiões de Shagor e não do Universo. Mas, por outro lado, todos os Cavaleiros das Profundezas ativos por todo o Universo estavam subordinados aos Cosmocratas. Embora o fundador da Ordem dos Shagor, Jedar Balar, houvesse se afastado dos principais poderes, os cem cavaleiros de Shagor estavam comprometidos com tal lealdade?

Como Jedar Balar tinha fundado a Ordem dos Cavaleiro das Profundezas em Shagor, ele tinha assumido que passaria despercebido por toda a eternidade. Seu plano durou 90 mil anos. O Cosmocrata SIPUSTOV tinha aparecido e lhe dado a sua tarefa.

O Cosmocrata tornou inequivocamente claro ao Grande Mestre dos Cavaleiros Arib’Dar que os cavaleiros seriam responsabilizados pelos atos de seu fundador, se ele não cooperasse.

Como líder da Ordem dos Cavaleiros das Profundezas, Arib’Dar estava designado para esta missão. SIPUSTOV tinha prometido deixar os Cavaleiros de Shagor em paz ao término da missão.

Selecionar Prot'Gar como seu companheiro, foi uma decisão fácil para Arib’Dar. O cavaleiro obeso e corajoso tinha sido seu aluno há não muito tempo e ele era um homem audacioso e aventureiro.

Gal’Arn tinha reagido com incompreensão diante disto. O jovem cavaleiro queria acompanhá-lo, mas ele estava convencido que este ainda não estava maduro o suficiente para fazer o que precisava ser feito. Porém Gal'Arn seria em algum dia no futuro incluído na Ordem, Arib'Dar estava certo disso.

Gal’Arn pensava satisfeito que Prot'Gar era ignorante e não raciocinava tanto quanto ele.

Impedir o nascimento do Filho do Caos por todos os meios.

Arib’Dar sabia o que significava esse comando. Para tal missão o jovem Gal'Arn era inadequado. Prot'Gar não era um assassino insensível, mas ele não hesitaria no momento certo, fazendo a coisa certa para a sua missão.

Os dois orbiters lhe davam mais preocupações. Cada Cavaleiro das Profundezas Shagor se baseava nas antigas ordens de um escudeiro. A maioria deles era de seres que não foram autorizados a se tornar um cavaleiro por si mesmo. O número de defensores da justiça foi limitado a cem. Assim Jedar Balar quis, o que foi seguido por 90 mil anos.

A seleção de alunos nomeados cavaleiros era muito rigorosa. E somente aqueles que passaram nos exames dos cavaleiros eram consagrados verdadeiros Cavaleiros de Shagor.

O ghannakke Ifrukar e o katrone Ribwan eram, sem dúvida, leais e competentes orbiters, mas eles seguiriam as instruções de Arib’Dar incondicionalmente?

No momento, os dois seres estavam agitados esperando para conduzir a TERSAL. Arib esperava que não fossem destruir qualquer coisa acidentalmente. A TERSAL era a mais importante e sagrada espaçonave em Shagor. Ela havia sido um dia a espaçonave do fundador Jedar Balar. Seu fiel orbiter Vergana, um robô, mesmo após a sua morte, continuou cuidando da espaçonave. Ela era repetidamente renovada para as gerações futuras.

Vergana e a TERSAL de cento e dez metros de comprimento foram legados tangíveis dos dias de fundação da Ordem. Apenas os cavaleiros campeões eram autorizados a falar com Vergana e pedir uma missão na TERSAL. Este pedido não fora negado a Arib’Dar.

Viagens intergalácticas não eram mais feitas por Shagor. Os vários povos não saíam da galáxia. Não havia mais naves de longa distância. Só a TERSAL, com a cobertura da tecnologia dos Cosmocratas, podia chegar a outras ilhas estelares.

No entanto, a TERSAL provavelmente também falharia no voo de longa distância. SIPUSTOV os tinha informado sobre um chamado portão estelar num setor remoto de Shagor. Este portal em forma de um anel gigantesco era uma espécie de transmissor.

O alcance desta tecnologia desconhecida era enorme. Em poucos segundos, eles percorreram 320 milhões de anos-luz e estavam na borda de um grupo local, onde também havia um portão estelar. Aparentemente, os habitantes deste grupo de galáxias não tinham conhecimento da existência do portal transmissor.

Chegar à Via Láctea levou algum tempo, mas agora eles tinham chegado a periferia da galáxia. SIPUSTOV teve de importar os dados da galáxia através de Vergana no computador central da TERSAL. Assim, os Cavaleiro das Profundezas saberiam que setores eles deveriam evitar. Para SIPUSTOV era importante que não houvesse contato com os terranos, arcônidas, ou outras nações já estabelecidas.

No entanto, o contato com os nelesenses e a mãe do Filho do Caos era inevitável.

Neles estava no sul da galáxia num braço exterior. O Cavaleiro das Profundezas esperava encontrar por lá as piores criaturas do inferno.

***

— Esses deveriam ser as bestas-feras? Parecem relativamente pacíficos — disse Prot’Gar, esfregando a barriga.

Arib’Dar ficou surpreso. Ele encontrou em Neles uma infraestrutura desenvolvida e uma população civilizada. Eles dominaram o início das viagens espaciais. Os seus sinais de rádio e de vídeo eram instrutivos sobre a sua sociedade.

Mas onde estava a portadora do Filho do Caos? Arib’Dar tinha pensado num mundo de lava. Ele tinha-se preparado para uma luta contra hordas sinistras do mal, mas a calamidade tinha muitas faces. A mais perigosa era a graça.

Os nelesenses eram humanoides e se assemelhavam mais a elares do que a pontanares. Isso era uma vantagem, pois ele poderia se mover livremente entre eles sem ser notado. Arib’Dar ficou um pouco preocupado com a sua cabeça pontuda, mas ele poderia cobri-la com um capuz. A moda em Neles parecia ser diversificada.

Os orbiters tinham que permanecer na TERSAL. A visão de um ghannakke ou um katrone certamente causaria terror entre a população.

— Temos alguma coisa — Ifrukar gritou animadamente e abanou com as suas orelhas grandes.

— O que você tem? — perguntou Arib’Dar.

— Nós detectamos algo estranho — respondeu o katrone Ribwan e apontou com a tromba para um holograma.

Arib’Dar e Prot’Gar levantaram-se e foram para a parte de trás do centro de comando. Na órbita de Neles havia uma espaçonave esférica com um diâmetro de 100 metros. Era muito mais avançada do que a tecnologia nelesense.

— Aparentemente, ele usa um disfarce simples — disse Ribwan.

— Para Neles é suficiente, mas não para o rastreador da TERSAL — murmurou Prot’Gar. Em seguida, ele apontou para um sinal fraco piscando no holograma. O que é isso?

— Nós realmente não sabemos. Talvez apenas uma perturbação. Ele tem uma assinatura de energia fraca, no entanto, é difícil distinguir o que é.

— Uma segunda espaçonave.

Arib’Dar tinha certeza de que queria passar despercebida. Aparentemente, uma espaçonave não tinha nada a ver com a outra. Talvez fossem mesmo de potências rivais.

— A TERSAL permanece por enquanto na extremidade do sistema. Nós assistiremos as atividades à distância. Traga o máximo possível de informações sobre as espaçonaves. — exigiu o cavaleiro.

Prot’Gar ouviu seu mestre cavaleiro dizer.

— As duas espaçonaves certamente terão algo a ver com o Filho do Caos.

— Vamos ver...

Arib’Dar agora não estava com vontade de falar. Ele precisava pensar.

***

As observações dos dois orbiters trouxeram novas e importantes descobertas. A nave esférica com a camuflagem simples se chamava HAWKING e pertencia a uma organização de nome Camelot. Ela consistia apenas de alguns terranos e alguns representantes dos povos coloniais. Um grupo de cientistas tinha algum tempo atrás estado em contato com os nelesenses para apresentá-los à comunidade interestelar da Via Láctea.

Sobre a outra espaçonave não havia nenhuma informação. Não era visível nada além de um sinal irregular.

Arib’Dar lembrou-se das palavras de advertência de SIPUSTOV. Eles não deveriam entrar em contato com terranos.

Ribwan mostrou um vídeo sobre os camelotianos, entre os quais, obviamente os terranos. A imprensa relatou aos nelesenses com entusiasmo sobre os visitantes do espaço. Ivan e Selina Despair eram o “casal das estrelas” para os nelesenses.

Ivan era um homem ligeiramente encorpado com cabelo escuro. Ele tinha uma aparência comum. A sua esposa, no entanto, era uma beleza. Longos cabelos loiros, olhos azuis e uma figura de tamanho considerável.

— Notei alguma coisa — disse Prot’Gar que, aparentemente, também tinha olhado Selina Despair com mais atenção.

Arib’Dar olhou o elare interrogativamente. Prot’Gar botou mais um sanduíche na boca.

— Agora diga, finalmente!

O cavaleiro mastigou mais uma vez com prazer, tomou um gole de tervi e arrotou.

— Então, agora me sinto melhor. Com a boca cheia não se deve falar. A anatomia dos terranos é muito semelhante a dos elares e pontanares. E agora olhe para o seu abdômen.

— O que é?

— Ele é arqueado.

— Curvado — Ifrukar e Ribwan sussurraram reverentes e se olharam interrogativamente.

— E? — perguntou o katrone. — Comem demais, assim como você, meu amado mestre?

— Não — disse Arib’Dar com firmeza.

Ele sabia a que Prot’Gar estava se referindo.

Ela está grávida.

Os dois orbiters não tinham entendido ainda, aparentemente. Mas Prot‘Gar parecia temer a mesma coisa que Arib’Dar.

Esta Selina Despair seria a mãe do Filho do Caos?

Não era por acaso que duas estranhas espaçonaves estavam em órbita de Neles.

— Mestre! — gritou Ifrukar, apontando para o sistema de localização.

A partir do sinal fraco, uma espaçonave de cerca de quinhentos metros apareceu de repente. O centro consistia de uma bola. Extensões à direita e esquerda estavam anexados nas laterais em forma de asas e armas. A espaçonave que tinha forma de H estivera escondida o tempo todo. Por que de repente perdeu a sua camuflagem?

— Estado de prontidão. Leve-nos para mais perto do planeta — Arib’Dar decidiu.

Capítulo 7

A chegada de Cau Thon

O tempo para ação tinha chegado. Cau Thon instruiu o zievohne Preschtar a desativar os campos defletores da KARAN. Era um orgulho de espaçonave. Ela já tinha pertencido ao Cavaleiro das Profundezas Myron Reburs que Cau Thon tinha matado.

Agora ela pertencia a ele e estava a serviço de outro poder mais caótico.

A emoção a bordo da HAWKING era grande. De repente apareceu na frente deles uma espaçonave de grande diâmetro. Ela tinha alarmado os cientistas.

Cau Thon gostou de imaginar o medo dos cientistas. O medo era seu mais poderoso aliado. Embora a distância fosse grande demais para ser capaz de realmente perceber seus sentimentos, mas isso mudaria em breve.

— Preschtar, preparar o meu traslado! Não quero assustar completamente os primitivos.

A figura com capuz se curvou em silêncio. Isso já era de se esperar.

Cau Thon sentou-se no terminal de comunicação e enviou uma mensagem concisa.

— Eu venho em paz.

Esta declaração sempre funcionava.

O transporte espacial estava pronto. Cau Thon aguardava com expectativa a reunião com os Despair. Ele enviou uma segunda mensagem. Nela, ele pediu para se encontrar com os camelotianos e enviou as coordenadas junto. Cau Thon escolheu a pequena cidade onde o camelotiano Effysit tinha começado a construção de sua segunda estação oficial.

Os nelesenses bloquearam para a sua própria segurança o local de pouso e ofereceram um grande contingente policial.

Cau Thon se perguntava se fazia sentido que houvesse tantas testemunhas. Bem, ele decidiria sobre isso posteriormente. Primeiro ele tinha que pousar com segurança no planeta com o seu transporte espacial.

Uma vez que isso fora conseguido sem esforço, ele saiu para o sol e deixou as pessoas perplexas.

Ele olhou para baixo da escotilha para os nelesenses e camelotianos enquanto a rampa baixava lentamente para o chão. Os nelesenses olharam para ele como se vissem um estrangeiro pela primeira vez. Eles tinham que realmente se acostumar com a visão de criaturas estranhas.

Enquanto o Filho de Caos caminhava pelo corredor, ele percebeu Selina e Ivan Despair e Ron Horace e o chefe deste mundo Luratz Jomahr.

As forças de segurança voltaram as suas armas de projétil inofensivas sobre ele enquanto Cau Thon caminhava lentamente para o grupo. Como ele estava diante dos Despair, ele tirou a batina.

Ele registrou que dedicaram especial atenção à sua lança carit que tinha ornamentos de ossos. Com cuidado, Cau Thon colocou o bastão contra um veículo de locomoção e passou a mão sobre ele.

Cau Thon se manteve em silêncio. Aparentemente, seus homólogos ficaram embaraçados. Finalmente Luratz Jomahr quebrou o silêncio.

— Bem-vindo, estranho! Quem é você?

— Um viajante — Cau Thon respondeu com a sua voz rouca. — Meu nome é Cau Thon. Sou um pesquisador, que explora as maravilhas do Universo.

— A que povo você pertence? Você não vem da Via Láctea? — disse Selina Despair.

Seu marido olhou para ela com azedume. Obviamente ele queria fazer a mesma pergunta.

Então é assim! A mãe de um futuro filho do Caos. Cau Thon olhou profundamente em seus olhos azuis. Ele agora sentia seu desconforto. Mas o medo de seu marido era muito maior. A imagem patética de um homem.

Todos pareciam estar com medo. Selina também, mas ela não deu nenhum sinal, pelo menos, não o disse abertamente.

— Você não conhece meu povo, ele não é desta galáxia.

Ron Horace olhou para Cau Thon insistentemente. Ele parecia muito desconfiado. O terrano alto com o restolho estava certo em relação a ele, mas não seria capaz de detê-lo.

— Mas por que você está aqui? Este planeta é isolado. Para um viajante, há certamente lugares mais interessantes na Via Láctea — disse Ivan Despair ligeiramente provocante.

Ele não tinha esperado tanta coragem dele.

— Tudo depende do que você está procurando...

Agora Jomahr se manifestou novamente, já que essa conversa era claramente desconfortável.

— Cau Thon, seja nosso convidado. Há um número crescente de estrangeiros que honram nosso planeta. Se isso continuar, vamos adquirir um papel significativo na Via Láctea — brincou o presidente, apontando para um dos seus meios arcaicos de transporte.

Cau Thon balançou a cabeça lentamente e tomou o seu cajado novamente. Despair e Ron Horace foram para o carro.

— Neles tem um significado cósmico... — Cau Thon murmurou para si mesmo antes de entrar no carro.

***

O passeio num veículo desse tipo era desconfortável e lento, mas interessante de uma certa maneira. Cau Thon gostava do contato com o solo através das rodas.

Eles chegaram a um hotel. Houve um banquete de boas-vindas para eles. O Filho do Caos apreciou o sabor, a hospitalidade e distração. Logo ele estaria novamente a sós com o silencioso zievohne na KARAN, que mal falava e certamente não sabia se socializar.

A imprensa não foi autorizada a participar deste jantar. Apenas alguns políticos de alto escalão, cientistas e os camelotianos. Darvynia, Eddie Alaban e o doutor Honorius Breank se juntaram a eles. Portanto, os outros dois camelotianos estavam na HAWKING.

O velho Alaban olhou Cau Thon estranhamente. O Filho do Caos sentiu o medo vindo dele. Alaban segurava um livro e olhou novamente para as tatuagens na testa de Cau Thon.

— De que galáxia você é? — perguntou Horace.

— Minha galáxia de origem está muito longe. Você não conseguiria entender a distância.

— Você está dizendo que somos demasiadamente estúpidos?

Horace olhou fixamente Thon.

— Não! No nível tecnológico você é inferior ao meu. Você afirma que os nelesenses são estúpidos só porque você é tecnicamente superior a eles?

Jomahr acompanhou a conversa com interesse e esperou com curiosidade óbvia a resposta.

— Claro que não! — o plofosense disse suavemente.

— Então está resolvido.

Cau Thon já não sentia a necessidade de falar mais com Ron Horace.

No entanto, Ivan e Selina Despair queriam saber mais sobre ele.

— Fale das suas viagens — sugeriu Ivan. — Também viajamos muito pela galáxia. Talvez possamos aumentar nosso conhecimento.

Cau Thon olhou para ele.

— Quando chegar o momento... — a sua atenção estava agora em Selina que estava inquieta. — Está sentindo alguma coisa, Selina Despair?

Selina estava com o rosto pálido.

— Eu não me sinto tão bem — disse ela.

— Querida, eu vou levá-lo para casa — disse o marido carinhoso.

Ele explicou que isso poderia ser devido aos efeitos pós-acidente com a radiação.

Cau Thon levantou-se e caminhou em direção ao casal.

— Não tenha medo, ela está num processo natural!

Ele colocou a mão em seu abdômen e fechou os olhos.

— Sim, estou grávida de seis meses. As mulheres de seu povo têm seus filhos assim?

Cau Thon sorriu e acenou com a cabeça.

— Mas o seu filho está em risco. Você foi exposta a uma alta dose de radioatividade. Eu sinto que algo está errado.

Selina e Ivan se olharam horrorizados.

— O doutor Breank disse que tudo ficaria bem.

— O meu povo já testemunhou o holocausto nuclear. Conhecemos muito bem os danos a longo prazo e desenvolvemos tecnologias para reparar o tecido celular e DNA. Temos esta tecnologia a bordo da minha espaçonave. Permite que faça uma investigação nela?

Selina e Ivan pareciam perplexos. Eles olharam para doutor Breank.

— Eu não encontrei mutações. Mas um segundo diagnóstico não poderia fazer mal. A estação médica da HAWKING não é Mimas.

O terrano com o cabelo encaracolado, curto e bolsas sob os olhos estreitou seus olhos. Cau Thon se divertiu, mas é claro que ele não riu. Ernst olhou para Selina.

— Eu não tenho certeza. O que você diz, Ivan? Isso não pode ferir? Porém, nosso filho deveria crescer saudável.

Ivan Despair parecia lutar consigo mesmo. Ele desconfiava de Cau Thon.

— Eu sou contra isso — Eddie Alaban interferiu. — Se é a vontade de Deus, o pequeno Despair vai nascer saudável. Além disso...

— Sim? — perguntou Cau Thon na expectativa.

— Você carrega a marca do diabo. Na minha religião, o número 666 significa grande calamidade.

— Você tem muita imaginação, Eddie Alaban.

— Eu não acredito neste absurdo — disse Ron, e Horace virou acintosamente para Cau Thon. — Mas eu não confio em você, pele-vermelha! Ela não vai para a sua espaçonave. É muito perigoso.

Cau Thon riu.

— Nós poderíamos montar um laboratório no hotel. Tudo o que precisamos é a sua permissão, caro Jomahr e, claro, o seu consentimento, Selina. O seu médico poderá participar da investigação.

Selina observou Horace. Este cruzou os braços sobre o peito, olhou Cau Thon por um momento e, finalmente, deu a sua bênção. O doutor Breank não tinha nada contra. Agora, a pequena Selina tinha que convencer apenas o seu marido sombrio.

— Se as coisas correrem bem, seu filho vai ser um telepata ou telecineta. Se as coisas correrem mal, ele terá um braço, onde outras pessoas têm seus órgãos genitais — Cau Thon apoiou a decisão.

— Tudo bem — disse Ivan Despair finalmente.

— Uma sábia decisão — Cau Thon encorajou os pais preocupados. Para que todos se envolvessem um pouco mais. Claro que ele não lhes disse isso.

A próxima fase de seu plano havia começado.

***

Quatro zievohnes tinham trazido num segundo transporte espacial os aparelhos do laboratório médico para Neles. Eles pareciam assustadores para os nelesenses e camelotianos.

Eddie Alaban constantemente murmurava uma oração para si mesmo. Ele aparentemente acreditava que Thon era um emissário do demônio. Tinha bom conhecimento da natureza humana.

Selina Despair descansou num tubo. Os zievohnes começaram as suas investigações. Assistida pelo doutor Breank. Ele ficou muito impressionado com a tecnologia e pediu inúmeras informações e os médicos zievohnes respondiam com monossílabos. Os zievohnes não tinham sido programados pelos professores da Modror para falar muito.

Eles foram, no entanto, bem instruídos por Cau Thon. Assim, o zievohne Pykal realizou um incomum monólogo para ele.

— Partes do DNA do feto estão danificadas pela radioatividade. Um parto seguro não é garantido. A criança vai nascer deformada. A probabilidade de morte após o nascimento não é alta. O bebê sofrerá apenas pequenas e permanentes deficiências. O tratamento médico aqui teve sucesso.

Um holograma do estudo destacou as observações de Pykal. Claro que a criança era saudável. Mas os camelotianos foram enganados pela simulação.

O doutor Breank fingiu que era capaz de entender os resultados. Cau Thon duvidava que ele fosse uma sumidade. Mas, aparentemente, ele não queria parecer um leigo. E nisso apostava suas cartas.

— O processo de reconstrução e reparação do material celular não leva muito tempo. É um procedimento de rotina — disse Pykal.

Ivan Despair também estava no posto médico. Num gesto comovente, ele pegou a mão de Selina. Ambos estavam chorando e estavam com muito medo por seu filho.

— Doutor? — perguntou Ivan.

Breank agora usou de seu conhecimento médico terrano. Aparentemente, ele queria realizar uma segunda investigação. Só ele. Mas seus dispositivos foram manipulados. O vírus que Cau Thon pôs a bordo da HAWKING tinha infestado os aparelhos da estação médica. O Filho do Caos imaginou que Breank queria confirmar o diagnóstico uma vez mais. A sua unidade de investigação foi programada pelo vírus para confirmar o diagnóstico zievohne.

Cau Thon havia estimado que os Despair e Breank finalmente confiariam nos zievohnes porque a sua incerteza era grande demais, mas uma confirmação ajudaria a reduzir a suspeita.

— A análise realmente demonstrou danos na genética da criança. O que ainda não tinha sido determinado um mês atrás. Ela deteriorou-se rapidamente. O zievohne está certo. Seu filho está em alto risco — disse Breank.

Ivan olhou para a esposa. Lágrimas rolavam por suas bochechas. Em seguida, ela balançou a cabeça.

— Ele deve salvar o meu bebê!

Despair dirigiu-se a Cau Thon.

— Estou ansioso há meses pelo nascimento do nosso filho. Eu quero vê-lo crescer. Jogar com ele, ajudar com a lição de casa, acompanhá-lo em seu primeiro voo no espaço.

Ele chorou.

— Eu... sei...

Despair enxugou as lágrimas do rosto e respirou fundo. Cau Thon achou a postura desse homem patética.

— Eu conheço você há apenas algumas horas, mas se tornar o meu bebê saudável, você terá um amigo para sempre. Eu ficaria eternamente grato! Por favor, salve nosso filho!

Com dificuldade, Cau Thon forçou um sorriso tranquilizante.

— Mas é claro. Pykal vai ajudá-los!

O zievohne foi para a interface do tubo, e começou com o processo real de alterações de DNA. Os tolos não perceberam que agora começava a fase mais importante.

Rodrom tinha dado a Cau Thon o material genético. Com base neste modelo, a estrutura celular da criança após o comando foi alterada por Rodrom. O curso para o novo filho do Caos estava fixado.

— Está consumado — disse Pykal secamente.

Ivan e Selina riram alto e se abraçaram. Mesmo o doutor Breank concordou cordialmente. Eles estavam todos felizes, mesmo que eles nada mais fossem do que tolos ignorantes.

— Oh, olhe este diagnóstico — Cau Thon exclamou, fingindo surpresa. — Posso dizer-lhe o sexo?

— Sim, claro!

— Vai ser um menino.

Selina sussurrou ao ouvido de seu marido. Ele olhou para ela brevemente surpreendido, depois assentiu.

— Senhor Thon, temos um nome para o nosso filho. Você salvou a vida dele. Ele deve se chamar Cauthon.

Cauthon Despair!

Capítulo 8

Felicidade em família

Inclusão de Selina Despair no diário de bordo

30 de agosto de 1264 NCG

Eu me recuperei bem do acidente e com a intervenção do zievohne. Para ser honesta, eu não senti nenhum efeito adverso. Estou muito feliz por ver como o meu pequeno Cauthinho cresce em meu ventre e chuta, especialmente sabendo que ele nascerá saudável.

A presença de Cau Thon era estranha, porém uma bênção de Deus. Se não fosse o estranho...

Além disso, eu não queria pensar. Eu não entendi a desconfiança de Eddie e Ron. Nós éramos povos civilizados. Não havia nada de incomum em nos deparamos com inteligências desconhecidas. Cau Thon tem provado nas três semanas de sua estadia que é útil e inofensivo.

Ele me disse que seu povo possui algum tipo de percepção empática, e é por isso que ele sentiu que havia algo errado com o meu bebê. Apesar de sua aparência nos ter parecido assustadora e estes zievohnes serem tão distantes, não devemos julgar só pelo exterior e pelos hábitos.

Além disso, também há muitos povos diferentes. Será que a nossa loquacidade e nosso riso também não são completamente estranhos para os zievohnes?

De qualquer forma, eu estou alegre e feliz pelos estranhos terem vindo até Neles.

Darvynia e eu já escolhemos o equipamento para o berçário. Considerando que nós ainda permaneceremos algum tempo em Neles, Cauthinho terá tudo isto bonito. Eddie Alaban reza todos os dias para a criança. Como sempre, Horace se divertia com o velho terrano, mas Eddie ignorava a malicia e continuava orando para o nosso bebê.

A mudança no comportamento de Eddie desde a chegada de Cau Thon não passou despercebida para mim. Ele cita versículos da Bíblia que estão no livro do Apocalipse.

Aparentemente Eddie está obcecado com a tatuagem na testa de Cau Thon. Reconheço que pareciam três seis sinuosos, mas daí a apontá-lo como um prenúncio do apocalipse, seria certamente muito exagerado.

Mais de uma vez Eddie disse que o número 666 é a marca do diabo e de seus seguidores. Para Eddie, Cau Thon é um emissário do inferno.

Eu não quero ouvir mais essa bobagem. Cau Thon explorou o planeta e as pessoas. Ele passou muito tempo com o nelesenses para conhecê-los melhor. Em particular, ele estava interessado nos jovens.

Seria isso algo satânico?

Ivan e Ron trabalharam com Dytch e Vulitaar em nossa estação, pois eles decidiram fazer uma representação de Camelot nos arredores de Effysit.

O nelesenses estavam maduros e todas as partes se beneficiaram. Mein Schatz ganhou a permissão de Camelot. Ele falou diretamente com Reginald Bull. Ivan está tão orgulhoso por ser capaz de falar com um dos grandes e populares portadores de ativador celular.

Ele lhe tinha dito o quão benéfico foi para Neles e que agora queria construir oficialmente uma representação de Camelot. Bull não teve objeções e felicitou-nos sobre esta decisão.

Fizemos uma reflexão séria sobre nos assentarmos permanente em Neles. Eu poderia muito bem imaginar algo assim.

Para Cauthon seria uma boa casa.

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

Setembro 1264 NCG

Selina agora está no oitavo mês. Apenas pouco menos de quatro semanas para o nascimento. Eu mal posso esperar. Eu serei pai!

Após Reginald Bull ter-nos dado a permissão para construir uma representação de Camelot, parecia que o pequeno Cauthon cresceria em Neles.

Bull nos deu uma meta para o resto do ano: devemos fortalecer nossa relação com os nelesenses e em seguida ajudá-los a desenvolver a sua primeira verdadeira espaçonave e começar a sua construção.

Bull absteve-se de colocar membros adicionais na representação de Camelot. Devemos proceder com cuidado e também não sobrecarregar os nelesenses. Ele demonstrou interesse em Cau Thon e escreveu ontem por uma mensagem pelo hipercomunicador dizendo que ele gostaria de conhecer este pele-vermelha salva-vidas.

Eu não tive a oportunidade de falar com Cau Thon. Ele anda ao redor das áreas mais extremas de Neles. Cau Thon era realmente um homem ligado à natureza. Mas nós tínhamos ganhado nele um novo amigo. Ele foi o salvador do meu menino e eu seria grato a ele até o fim.

Hoje eu tive uma experiência estranha com dois trabalhadores nelesenses que foram empregados na expansão da nossa estação de pesquisa. Seus nomes eram Arib e Protgar.

Eu não lembro seus sobrenomes.

Eles me fizeram muitas perguntas e ouviram com muita atenção quando eu lhes falei sobre Cau Thon e a atenção dos zievohnes com Selina.

Eles eram muito inexperientes como artesãos... eles eram mais desastrados do que eu, mas eles mostraram-se muito mais capazes quando vieram montar e instalar o computador. Para nelesenses, eles eram bastante inteligentes. O que eu quis dizer é que eles sabiam mais do que era de se esperar de acordo com o nível de desenvolvimento técnico de seu mundo.

Eles também mostraram um grande interesse em Selina e no nascimento próximo, e perguntaram também se eles poderiam ir à nave HAWKING. Claro, isso não funciona assim. Até agora eu só tinha concedido a Luratz Jomahr este privilégio.

Eu estou desconfiado destes dois nelesenses. Estes são dois pássaros estranhos...

Capítulo 9

O nascimento

Arib’Dar e Prot'Gar voltaram para a TERSAL. O mestre dos cavaleiros sentou gemendo em sua poltrona. Todos os ossos doíam do trabalho. Um pontanare normal na sua idade já teria se aposentado há muito tempo. Apesar do treinamento intensivo e as muitas formas de meditação para fortalecer a mente e o corpo. Arib'Dar não era mais um jovem.

E ele percebeu isso claramente hoje. Ele fechou os olhos e pensou em sua missão.

Ele ainda não estava certo se a espaçonave em forma de H tinha notado seu desembarque em Neles ou não.

Os nelesenses e camelotianos desconheciam definitivamente a sua presença neste planeta. Ivan Despair certamente pensara apenas que os dois eram nelesenses excêntricos e curiosos que simplesmente queriam aprender mais a partir do contato com os estrangeiros. Arib’Dar recapitulou as novas descobertas das sondas orbitais controladas por Ifrukar e Ribwan. Chegou à conclusão que o alienígena Cau Thon estava obviamente desempenhando um papel fundamental.

Os camelotianos não se portavam como se soubessem que ele era o Filho do Caos. Eles também não pareciam prestar homenagens a algum obscuro culto caótico. Arib’Dar admitiu que eles realmente não sabiam que um filho do Caos estava ali agora, mas SIPUSTOV tinha insistentemente exigido deles, que evitassem o seu nascimento. Presumivelmente, eles seriam futuros seguidores dos poderes do Caos. Talvez os Filhos do Caos fossem uma contrapartida para os Cavaleiros das Profundezas? Seria lógico que também a hierarquia do Caos tivesse as suas próprias organizações de elite.

Uma coisa estava clara de qualquer maneira: Ivan e Selina Despair ignoravam que ela aparentemente daria à luz a um filho do Caos. Houve também pouca dúvida de que a criança destas duas pessoas viria a ser o suposto filho do Caos para Arib’Dar.

Como poderia ser de outra forma?

Claro que Ifrukar e Ribwan tinham realizado um rastreio em massa. Havia centenas de milhares de mulheres grávidas em Neles que em breve dariam à luz a seus filhos.

Poderia realmente ser possível que o Filho do Caos estivesse entre eles, mas devido ao fato de que apenas uma visitante de outro planeta estava grávida e este misterioso alienígena Cau Thon mostrou interesse visível em sua gravidez, falou por si.

Realmente porque Cau Thon tinha feito com que Selina Despair fosse submetida a exame médico por sua equipe zievohne?

Esta questão tinha de ser respondida a fim de ter certeza.

— Temos de ficar perto da mulher — disse Prot’Gar com firmeza.

Um exame do feto poderia vir a lançar luz sobre a sua teoria.

Embora ele ainda não soubesse como reconheceria um filho do Caos através do exame, Arib’Dar acreditava que ele saberia quando fosse a hora.

***

Eles haviam formado dois grupos. Arib´Dar e Prot´Gar continuaram a trabalhar no canteiro de obras da estação de pesquisa de Camelot, enquanto os dois orbiters seguiam a uma distância respeitosa Selina Despair.

Como havia muitos trabalhadores, ele não podia se mover tão livremente como queria. Portanto, o ghannakke e o katrone tiveram de assumir a vigilância. Mas também não pertencia ao Cavaleiro das Profundezas esta decisão. Era elevado o risco de que as duas sondas fossem descobertas.

Ele teve que deixar a critério dos dois. Os dois Cavaleiros faziam o seu trabalho e estavam sendo observados pelo chefe de segurança camelotiano, um homem chamado Ron Horace.

Provavelmente Ivan Despair tinha ficado desconfiado. Embora Arib’Dar fosse muito simpático ao casal, ele não poderia revelar-se a eles. O que ele deveria dizer a eles? Que ele era um Cavaleiro das Profundezas e nomeado por um Cosmocrata para assassinar seu filho, por ser este suspeito de ser um filho do Caos? Os Despair dificilmente aceitariam.

O intercomunicador de Arib’Dar vibrou em seu cinto. Foi uma interrupção bem-vinda ao trabalho. Ele já estava sem ar. Mas ele não queria deixar transparecer isso. O Cavaleiro das Profundezas colocou a abertura de seu poncho para o lado, olhando em volta, para que ninguém visse, e usou o comunicador.

— O quê?

— Grande problema, enfrentamos enormes problemas! — Ifrukar berrou para o dispositivo de comunicação. Ao fundo Ribwan bufava e trotava. Até mesmo os gritos de uma mulher podia ser ouvido.

— Pelo Cosmocrata! Pegaram Selina Despair? — suspeitou Prot'Gar e, aparentemente, não sabia se ele era corajoso ou cruel. Arib’Dar tinha outra teoria. Ele pediu Ifrukar para ficar calmo e sereno.

— Prudência? Por quê? Ela corre para fora e grita e grita. Oh não, oh não! Temos de encobrir isso, foi muito perto, ela reclamou, xingou, queria saber de que planeta viemos e, em seguida – voilá...

Arib’Dar imaginava figurativamente. Ele culpou a si mesmo. Se ao menos ele não tivesse usado os dois para a camuflagem.

— Seu filho está nascendo — disse o Cavaleiro. — Onde exatamente você se encontra?

— Vamos levá-la a um hospital. Ela tem muita dor. Temos que ajudá-la — explicou o ghannakke sem fôlego.

Arib’Dar estacou. O que ele deve fazer agora? Ordenar ao orbiter assassinar mãe e filho? O que ele poderia fazer realmente?

Arib’Dar olhou para seu companheiro Prot’Gar. O elare olhou furtivamente para o chão, ele queria evidentemente ter muito pouco a ver com o assassinato.

Mas eles tinham uma missão! O que era a vida de uma criança em comparação com a preservação da ordem no Universo? Eles tinham a ordem direta de um Cosmocrata. Quem eram eles para duvidar destas ordens?

E ainda — não eram esses os motivos de seu fundador Jedar Balar? Ele tinha dúvidas sobre a política dos altos poderes. Ele se opôs.

Só que desta insubordinação deviam a sua existência como Cavaleiro das Profundezas de Shagor. Teve seu escrúpulo a penalidade aplicada implacavelmente pelos Cosmocratas de 90.000 anos de exílio?

— Vamos!

Arib’Dar adiou a decisão. Enquanto ele ia com Prot'Gar, Ivan Despair corria por quase todo o caminho.

— A minha mulher ganhou seu filho. Darvynia acabou de ligar. Dois estrangeiros cômicos, aparentemente um unitro – Oh, vocês simplesmente não sabem o que é isso... eu tenho de ir imediatamente para ela!

Os dois Cavaleiros entreolharam-se com conhecimento de causa.

— Nós apoiaremos você.

***

A dirigibilidade do automóvel ainda era um mistério para Arib’Dar. Prot'Gar acomodou-se no banco do passageiro e um pai numa expectativa histérica no banco de trás agravou uma condução sem acidentes. Após alguns quase acidentes mortais eles chegaram ao hospital.

Eles entraram correndo. Ribwan e Ifrukar ficaram em meio a um aglomerado de pessoas. Os nelesenses olharam com um misto de admiração, curiosidade e indignação para os dois orbiters.

Despair não tinha olhos para os dois. Darvynia correu para encontrá-lo e apoiá-lo. Ambos foram levados pela equipe para a sala de parto.

Arib’Dar sabia que eles tinham perdido a sua chance de impedir o nascimento. É claro que eles podiam fazer um massacre no hospital, mas o seu senso de honra e seus princípios proibiam tal ato bárbaro. Os nelesenses eram pessoas inocentes. Eles não tinham nada a ver com o jogo de xadrez cósmico dos altos poderes. E, basicamente, os Despair também não. Os camelotianos eram cientistas simpáticos que se alegravam pelo nascimento de seu primeiro filho.

Prot’Gar caminhou por entre os nelesenses espantados e disse que os dois orbiters eram novos funcionários camelotianos. Ele pediu aos nelesenses manterem uma certa distância.

O ghannakke e o katrone superaram a barreira e seguiram o cavaleiro Arib’Dar.

— Você gostaria de um café? — perguntou uma enfermeira envergonhada.

— Não, obrigado. Mas leve-nos para a sala de espera da sala de parto. Queremos estar perto de nossos amigos.

Claro, a enfermeira não sabia que os camelotianos não eram seus amigos. Ela levou os quatro dois andares mais acima, para uma sala de espera.

Darvynia sentou lá. Ela olhou para os dois orbiters.

— Os nossos acompanhantes são estranhos. Quem são vocês? Espiões do Fórum Raglund?

Ela olhou para o katrone.

— Ele se parece com um unitro. Mas ele não é um deles. De onde você é?

Eddie Alaban, doutor Breank e Ron Horace correram até eles. Darvynia falou com eles. Enquanto o médico entrava na sala de parto, o chefe de segurança camelotiano vigiava o cavaleiro e seu orbiter.

— Quem são vocês?

— Nós somos...

— Servos dos Cosmocratas são a sua versão oficial — disse uma voz áspera atrás deles.

Arib’Dar virou. Automaticamente, ele olhou para a tatuagem na careca do homem de pele vermelha. Era Cau Thon. Como ele sabia de suas origens?

— Embora isso seja improvável, eles observam você, camelotiano. Você não deve confiar neles. Talvez sejam espiões do inimigo. Vocês são agentes do Império de Cristal?

Cau Thon riu superior. Arib’Dar sentiu-se apanhado por este servo sinistro dos Caotarcas. Como ele tinha as informações, o cavaleiro não sabia, mas o outro lado não estava dormindo. Como SIPUSTOV tinha informado sobre os eventos na Via Láctea, portanto, um Caotarca provavelmente tinha instruído Cau Thon. Mas, aparentemente, Cau Thon não informou ao camelotiano a verdade. Em vez disso, ele colocou-lhe uma desculpa diretamente na boca. Cau Thon sabia que ele não era agente de qualquer poder da Via Láctea, mas ele queria que o camelotiano acreditasse exatamente nisso.

— Saia daqui — gritou Horace ameaçadoramente.

Arib’Dar deu aos outros um sinal. Eles deixaram o hospital sem resistência. Eles tinham que voltar com um novo plano.

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

03 de outubro de 1264 NCG

Meu filho — Cauthon nasceu ontem! O nascimento foi o mais puro horror. Selina tinha gritado e sangrado muito — mas depois foi tudo esquecido quando o pequeno Cauthinho deu o primeiro som e os médicos me tinham mostrado.

Esse era o meu filho!

Este pequeno ser era meu filho! Estou tão orgulhoso e feliz como nunca estive. E Selina também. Ela está tão feliz.

Eles não querem deixar visitar o pequeno Cauthon. Os médicos me disseram que Cauthinho e Selina devem ficar por três dias no hospital, só então eu poderia pegar os dois.

Oh, meu pequeno Cauthon! Se você vier a ler esses apontamentos é porque o seu pai senil os manteve desprotegidos na sintrônica, então você saberá que o amamos e que o dia em que você nasceu foi o mais feliz da nossa vida até agora.

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

05 de outubro de 1264 NCG

Só agora eu tive a oportunidade de pensar sobre os estranhos. Delírios de alegria com o nascimento de Cauthon me fizeram esquecer tudo. Selina e Darvynia haviam relatado que esses dois seres as tinham aparentemente seguido. Enquanto Selina ia para o serviço, entrou em trabalho de parto e os dois ajudaram Darvynia a trazer minha esposa para o hospital.

Aparentemente, estas estranhas criaturas não vieram da Via Láctea. Embora uma das criaturas fosse muito semelhante a unitros, eles tinham sérias diferenças. Os unitros não têm chifres e têm menos olhos. A segunda criatura parecia um burro sobre duas pernas com as orelhas flexíveis grandes.

Cau Thon informou que eles são agentes de origem desconhecida, que vigiavam o camelotiano para coletar mais informações para os Cosmocratas ou outras entidades. Ele me aconselhou a evitá-los e prometeu que iria investigá-los.

No entanto, eu me pergunto por que tinham interesse por nós? Por que eles não estavam espionando Perry Rhodan? Havia coisas estranhas acontecendo em Neles. Embora Cau Thon tenha feito tanto por nós, eu ainda tenho uma certa desconfiança sobre ele.

Eu só não entendo por que isso aconteceu com todos nós. Nós somos cientistas insignificantes num mundo remoto, na grande Via Láctea. Por que estão viajantes estelares tais como Cau Thon ou os quatro estranhos estão interessados em nós?

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

25 de outubro de 1264 NCG

Selina e Cauthinho estão indo bem. O pequeno está com muita fome e é brincalhão. Selina e eu estamos muito felizes. Só que esta inquietação sobre os estranhos me preocupa. Os quatro alegados agentes dos Cosmocratas ou um poder secreto não foram vistos.

Cau Thon nos deixou há poucos dias. No entanto, ele prometeu voltar em breve.

Estes seres são assustadores para mim. Eu tinha que proteger minha família e penso seriamente em deixar Neles e regressar a Camelot.

Este mundo é bom, mas eu me sinto seguro aqui? Eu não tenho certeza disso.

Eddie Alaban, com as suas teses sobre Cau Thon, deixa-me insano e inseguro. Ele fala repetidamente que Cau Thon é um emissário do inferno. Ele associou a tatuagem na testa de Cau Thon com o número do diabo: 666!

Que besteira. No entanto, isso também contribuiu para o meu desconforto. Eu estou confuso. Não gostaria de ver novamente nenhum deles, mas uma voz interior me diz para ficar alerta.

Capítulo 10

O Mestre

A nave de Cau Thon deixou Neles e voou para um sistema desabitado na borda da Via Láctea. A nave em forma de H desembarcou num mundo de metano inóspito. Uma segunda estrutura, rodeada por uma esfera azul, existia no planeta.

Cau Thon colocou um traje espacial, saiu e caminhou lentamente em direção ao objeto muito maior. Um tipo de comporta se abriu na esfera protegida e um ser com uma túnica e capuz pretos flutuou em direção a Cau Thon. O rosto não era visível.

Cau Thon mostrou reverência a seu mestre, seu senhor — seu deus! Seu coração batia descontroladamente e um arrepio percorreu a sua espinha. As emoções negativas que irradiavam do seu mestre eram muito grandes. Requeria uma disciplina severa, para não permitir ser dominado por atroz dor mental. Um ser despreparado provavelmente teria sido destruído imediatamente.

— Relatórios! — exortou o ser.

Cau Thon curvou-se brevemente, em seguida, caminhou lentamente e seguiu a criatura flutuante.

— Está feito — Cau Thon começou num tom pomposo, mas ainda seria considerado calmo.

— Então o Filho do Caos nasceu? — quis saber a entidade escura.

— Sim, meu senhor!

O manto negro olhou para Cau Thon.

— Em apenas vinte anos terranos, teremos um valioso aliado. Até então não deve acontecer nada a ele. Ninguém pode atrapalhar o destino de Cauthon Despair. Mate a família, destrua os assassinos de SIPUSTOV!

— Eu entendo, meu senhor.

— Cau Thon, em breve, haverá uma reorganização do Universo e este menino vai ajudar a destruir o nosso adversário mais perigoso antes que ele possa cumprir o seu destino na origem do Universo.

Essas foram as últimas palavras da entidade. A criatura das trevas flutuou de volta para a sua esfera que decolou e, após apenas alguns minutos, desapareceu na imensidão do espaço.

O que restou foi um pensativo Cau Thon. As instruções de seu mestre eram inconfundíveis. Qualquer um que ficasse no caminho de Cauthon Despair tinha que ser eliminado.

Cau Thon sabia o que tinha que fazer a seguir.

Capítulo 11

Olho por olho – dente por dente

Cau Thon observou que Eddie Alaban já o seguia por horas pela cidade. O terrano que crê na Bíblia era bastante estranho. As tolas tentativas dele para se passar despercebido o divertiam. Ele caminhou lentamente para uma fazenda abandonada. Acima dele, uma tempestade estava se formando. Nuvens escuras seguiam em frente. Finalmente, ele parou no quintal.

— Tem alguma coisa para me dizer, Eddie Alaban?

Agora o velho saiu de sua cobertura.

— Falei com os Cavaleiros das Profundezas. Você é um embaixador de um filho do Caos e quer levar o pequeno Cauthon para o caminho das trevas. Eu não vou permitir — disse Alaban e andou corajosamente para Cau Thon.

— Sério? Você e estes Cavaleiros também querem matar Cauthon? Um novo Filho de Caos nasceu. Ele já escolheu seu caminho. E outra coisa, eu não sou um defensor de um filho de Caos. Eu sou um!

O vento transformou-se numa tempestade. Os galhos das árvores rangiam.

Eddie Alaban apontou uma cruz na direção de Cau Thon e disse: — Para trás, besta-fera. Em nome de Jesus Cristo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Obedeça!

Cau Thon riu. Embora ele respeitasse a forte crença dessas criaturas miseráveis, com provérbios piedosos ele não iria impedi-lo. Alaban sabia demais.

Era hora da limpeza. Cau Thon deu no terrano um golpe no estômago. Alaban caiu de joelhos.

Cau Thon se abaixou e pegou seus cabelos oleosos na parte de trás da cabeça.

— Eu já li a Bíblia. Não está escrito lá, amai os vossos inimigos? Por que então você mantém tal rancor contra mim?

— Oh Senhor, me perdoe. Eu sou fraco. Mas volte para o inferno! Deixe os Despair em paz!

— Ela não diz, que se alguém bate na face direita — citou Thon e deu um tapa em Alaban —, então ofereça o outro lado?

Agora, ele deu no fraco terrano um tapa na face esquerda.

Alaban chorou e em seguida orou.

Cau Thon levantou Alaban lentamente. O velho deixou que isso acontece com ele. Ele olhou para ele com olhos horrorizados. Começou a chover. Relâmpagos riscavam o céu.

Cau Thon tirou um pequeno punhal.

— Eu gosto de outra passagem ainda melhor. Ela diz olho por olho...

Agora, ele enfiou o punhal no olho direito. O terrano gritou de dor. Thon girou o punhal e arrancou o olho. Os gritos de Alaban se transformaram num gemido, mas ele o continuava segurando.

— E dente por dente...

Thon enfiou o punhal na boca da vítima e usou-o como uma alavanca para arrancar um dente da mandíbula. Sangue derramado da órbita vazia e do maxilar destruído. Ele largou a pobre criatura choramingando ao seu lado.

O Filho do Caos olhou em volta. Ele descobriu uma vara de metal enferrujado que estava encostada na parede do edifício. Cau Thon pegou e levantou Alaban novamente. Em seguida, ele deu um passo para trás, fez a vara rodar na mão várias vezes e enfiou em Alaban verticalmente no ombro e em diagonal através do corpo. A vara perfurou-o e saiu em sua perna esquerda. Mas Cau Thon manteve-se pressionando a barra até que ela tivesse enterrado no chão.

Contente o Filho do Caos olhou para a sua obra. Cravar o cadáver no chão com uma haste vertical foi um belo trabalho de arte.

Ele estava satisfeito consigo mesmo. Agora era hora de cuidar dos outros.

A diversão estava apenas começando.

***

A tempestade continuava. A tempestade açoitava a chuva na cara de Cau Thon, mas ele não se importava. Ele sentia a natureza selvagem como uma expressão de sua fé no poder do Caos, como um reflexo da vinda da evolução do Universo. Ele se agachou atrás de uma colina nos arbustos e ficou à espera para a sua próxima vítima. Ele estava entre um lote e uma estação de trem de Effysit-Sul. Descendo a ladeira, ele foi para os trilhos enferrujados.

Então apareceu Ron Horace. Como todos os dias, ele visitou a pequena nelesense na casa decadente que oferecia seus serviços por dinheiro. Cau Thon se divertiu com as preferências secretas do camelotiano. Pena que ele tinha tão pouco tempo. Ele teria gostado de jogar com o plofosense um pouco, mas ele tinha que pensar em seu trabalho.

Evidentemente Horace tinha vergonha de suas necessidades, pois ele escolhera este refúgio isolado. Um trem de carga passava de hora em hora. E o plofosense tomou os trilhos como atalho.

Hábitos irritantes. Ele levaria algum tempo antes que conseguisse matá-lo.

Oh, e agora de repente o bonzinho ficou preso. Perguntava-se o que tinha acontecido? Ele tentou puxar a perna para fora do invisível campo de imobilização, mas não conseguiu. Isso estava fora de questão.

Horace tentou se inclinar e, obviamente, não conseguiu. Agora ele ficou enredado mais profundamente no campo de imobilização.

Ele ouviu um apito. Era o sinal do trem? Cau Thon gostou da luta frenética. Horace era como uma mosca numa teia de aranha, quanto mais ele lutava, mais apertado ele ficava preso.

Horace gritou por ajuda. O barulho das rodas pode ser ouvido. Em seguida, o trem estava à vista. Horace rugiu, virou de lado e mal podia se mover. Com a perna esquerda e braço esquerdo, ele acenou no ar.

Da casa, a menina correu vestida apenas com um vestido transparente. Horrorizada, ela colocou a mão sobre a sua boca. Ela olhou para o trem, depois de volta para Horace.

Cau Thon achou emocionante! O que faria a mulher? Será que ela ajudaria seu cliente?

O trem avançou num ritmo rápido. A mulher permaneceu enraizada no local. Horace ficou mole, ele tinha desistido da luta.

O trem atropelou o camelotiano e destroçou seu corpo. A nelesense gritava em sua porta.

O segundo inimigo caiu.

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

12 de novembro de 1264 NCG

A morte de Eddie Alaban e Ron Horace nos abalou profundamente. Os dois amigos e colegas de trabalho morreram no mesmo dia. Isso era inacreditável.

O que tinha acontecido? Por que eles tinham que morrer? Enquanto alguns apontavam para um acidente como a causa da morte de Ron, Eddie certamente foi assassinado. Eu não informei a Selina e Darvynia nada dessas atrocidades, mas eu tenho que informá-las aqui. Eu também tive de relatá-las para Camelot.

Em Eddie estava faltando um dente. Ele tinha sido arrancado. Um olho estava pendurado no rosto, fora de sua órbita ocular. Finalmente, uma haste de metal o havia perfurado a partir do ombro até a cintura e o empalado duramente.

Quem era capaz de tal barbaridade? Minha primeira suspeita recaiu sobre os quatro estranhos.

Perry Rhodan exigiu uma investigação e no final me disse que Atlan, pessoalmente, em poucos dias viria para Neles. Talvez tenha sido melhor assim, porque a situação estava sob a minha responsabilidade. Eu estou com medo e temo por Selina e Cauthon. Estaria o assassino de Eddie e Ron atrás deles também?

Capítulo 12

A decisão de consciência

Para Arib’Dar o assassinato dos dois camelotianos não tinha passado despercebido. Ele sabia que este misterioso Cau Thon estava por trás dele. Ele então veio para interroga-lo.

Talvez Arib’Dar não devesse ter visitado Eddie Alaban. Presumivelmente, o homem ainda estaria vivo. Mas o cavaleiro tinha notado a desconfiança de Alaban contra Cau Thon e o classificado como receptivo a uma conversa. Alaban os tinha ouvido, porém ele evidentemente tinha cometido o erro de confrontar Cau Thon com as suas suspeitas.

O Cavaleiro das Profundezas tinha consultado Prot’Gar e os dois orbiters. O que ele deveria fazer agora? A sua missão era a liquidação de um bebê. Esse era realmente o único caminho? Seu estômago se contraia em espasmos, quando ele pensava na execução.

O pequeno Cauthon Despair era uma criança inocente. Como ele poderia ajudá-lo se ele estivesse, talvez, à mercê de poderes cósmicos? Tinha o Cavaleiro das Profundezas de Shagor o direito de destruir uma família?

Isto não correspondia ao seu código de honra. Mesmo que o Cosmocrata SIPUSTOV tivesse ameaçado com uma punição, Arib’Dar sentia-se conectado profundamente com os princípios de Jedar Balar, e agora mais do que jamais tinha estado antes.

A sua tarefa era assegurar a paz e a ordem. Eles não eram assassinos empregados pelos Cosmocratas. Por isso Jedar Balar havia renunciado 90 mil anos atrás em favor dos Cavaleiros das Profundezas. Ele não queria ser um fantoche dos Cosmocratas.

— O que fazemos agora? — Prot’Gar finalmente perguntou, interrompendo o silêncio de interminável duração.

Arib’Dar suspirou. Ambos os orbiters olharam para o chão e não se atreveram sequer a se mover. Ele sabia o que eles estavam pensando. Eles estavam com medo que agora ele ordenasse a eliminação da criança.

Arib’Dar tomou a sua decisão.

— Cau Thon aparentemente quer limpar o terreno. Isso parece lógico para visão caótica. Quando o menino crescer numa casa de família com amor carinhoso, ele provavelmente não será tão receptivo à ideologia sinistra do Caos.

— Então o que vamos fazer? Vamos ajudar Cau Thon a cuidar da criança ou...?

Prot’Gar mordeu o lábio. O que ele estava pensando, ao aceitar esta missão?

— Não, não vamos matar a criança. O único assassino aqui é este Cau Thon. Falaremos com os Despair para convencê-los de que estamos do seu lado.

— E como, Sr. Cavaleiro? Se nós dissermos a verdade, não vão acreditar em nós — Ribwan virou e balançou a cabeça poderosa. A sua tromba balançou várias vezes da esquerda para a direita.

— Meu orbiter está certo. Devemos evitar qualquer contato com os camelotianos. Ou vamos executar o nosso comando e matar o pequeno Cauthon Despair ou matamos Cau Thon e espero que assim o perigo seja evitado. No entanto, isso nós não podemos garantir.

Ninguém pode prever o futuro. Quem garantiria que Cauthon seria um filho do Caos? E mesmo que houvesse muitos seguidores do Caos no Universo, Que importância teria mais um?

Arib’Dar preferia voltar imediatamente à Shagor, mas alguma coisa o mantinha no mundo Neles.

Ele não podia permitir que camelotianos inocentes perdessem as suas vidas.

Inclusão de Selina Despair no diário de bordo

13 de novembro de 1264 NCG

Cau Thon nos procurou nestes dias tristes e se condoeu diante das mortes de Eddie e Ron. Mas não foi puramente uma visita de cortesia. Cau Thon relatou que havia feito pesquisas sobre os quatro estranhos.

Ele nos presenteou com documentos. Uma série de dados, medições técnicas, códigos e por isso um farto material. Ivan olhou para eles e não podia acreditar no que estava vendo.

Estes quatro seres eram, obviamente, agentes do Império de Cristal de Árcon. Eles tinham enviado mensagens criptografadas em Satron1 que haviam sido descriptografadas.

Seu líder era um ara. O que combinava com a cabeça pontiaguda. O homem elefante era parte de um povo colonial adaptado ao ambiente de Unitro. Eu sei que há muitas raças na Via Láctea e eu, é claro, não conheço todas.

Cau Thon tinha decodificado com a sua tecnologia as ordens da inteligência arcônida. Elas ordenavam simplesmente: desestabilização da aliança entre Camelot e Neles — não está descartada a eliminação dos cientistas adversários.

Cau Thon suspeita que Eddie e Ron tenham visto os estranhos e se tornado consciente de suas ações. O que se encaixa no comportamento dos dois antes de suas mortes. Os dois estavam determinados e Eddie me tinha dito um dia antes de sua morte que ele estava na pista de alguma coisa. Fosse o que fosse, ele não me queria dizer até que tivesse provas.

Eu estou com medo! E se esses espiões também tentarem nos matar? Enquanto estivermos em Neles haverá alguma certeza? Quando finalmente Atlan chegará com a RICO?

Pedi a Cau Thon, para nos proteger. Eu sei que Ivan não ficará feliz, mas eu confio no pele-vermelha. Ele salvou minha vida e a de Cauthinho. Ele é o padrinho do meu filho. Sim, eu confio nele.

Darvynia me incentivou. Ela tinha literalmente idealizado uma fantasia com Cau Thon. A maneira sem rodeios como ela me contou sobre a sua atração por Cau, logo após a morte de Ron, surpreendeu-me e me chocou um pouco.

Talvez fosse apenas uma reação defensiva por não ter conseguido absorver a morte de Ron.

Ficamos exclusivamente em nossa estação. Eu tenho muito medo de me mover nas ruas de Effysit. Honório e Ivan irão mais tarde brevemente até a cidade para executar tarefas. Breank sugeriu que precisava de uma garrafa de vinho, pois ele já tinha esvaziado seu estoque. Como ele poderia pensar em algo mundano como o álcool em face destes eventos? Eu tinha expressado minhas preocupações a Ivan, mas Ivan considerou que, em dupla nada aconteceria com eles. Talvez Honório tivesse cabeça quente. Cada um reagiu de forma diferente às mortes de nossos dois amigos.

Eu preferia ir com Cauthon para a HAWKING. Mas a HAWKING era uma nave espacial de pesquisa e não uma nave de guerra. Se estes arcônidas espiões tivessem as armas necessárias, poderiam provavelmente destruir a HAWKING.

Mas, se eles pudessem, já não teriam feito isso há bastante tempo? Eu não tinha certeza disso. Estava perplexa e inquieta. Se fugirmos para Camelot, os arcônidas teriam atingido o seu objetivo. Em seguida desestabilizariam sem pressa a confiança entre nós e os nelesenses.

Eu pedi a Ivan para falar com os nelesenses, mas ele se recusou categoricamente. Ele não queria que eles percebessem lutas internas entre dois blocos de poder rivais da Via Láctea. O que podia ser feito? Acontecia o ressentimento mútuo em Neles. Exatamente o que estávamos tentando evitar!

Então, o que nós poderíamos fazer? A fuga ou a interminável espera por auxílio de Camelot. Atlan e seus especialistas sabiam lidar melhor com essas situações. O imortal arcônida tinha sido mais de 1.000 anos atrás, o Lorde-Almirante da USO.

Meu coração me diz que deveríamos deixar Neles, embora talvez assim o nosso trabalho seja desperdiçado. Minha mente me diz para esperar.

Mas eu sou uma mãe. Eu deveria escutar meu coração, certo?

Capítulo 13

Prova

Arib’Dar precisava de evidências! Ele tinha que assegurar-se e ele procurou um argumento convincente de que o pequeno Cauthon Despair era diferente. A justificativa de que ele deveria ser um filho do Caos.

Ele precisava apenas de argumentos convincentes para os camelotianos. A coisa era complicada. Matar Cau Thon simplesmente era assim quase impossível, porque ele estava sempre perto dos camelotianos. E enquanto esperava por uma oportunidade adequada, a chance de sobrevivência dos cientistas diminuíam drasticamente.

O pontanare vagou pelas ruas da cidade Effysit. Havia um movimento intenso nas estradas pavimentadas apesar da chegada da noite. As estradas estavam cheias de nelesenses que passeavam pelas lojas abertas, ignorando as temperaturas úmidas.

Honorius Breank e Ivan Despair haviam concluído a esta hora tardia as suas tarefas. Nenhum dos camelotianos ficou mais sozinho na montanha, perto da estação de Effysit.

Esta tinha sido uma decisão sábia, seu inimigo não estaria em seu meio. O Cavaleiro das Profundezas olhava os dois camelotianos. Eles deixaram uma mercearia e entraram numa rua lateral. O doutor Breank procurava uma loja de vinhos, como Arib’Dar sabia de suas observações de dias anteriores.

Arib’Dar empurrou a manga do paletó um pouco para trás e falou no dispositivo de comunicação em seu bracelete.

— Eles estão vindo.

O pontanare seguiu os dois de longe. De uma lateral, duas mulheres nelesenses se jogaram ao pescoço de Ivan Despair enquanto Breank entrava na loja de vinhos.

Esta foi a sua chance. Arib’Dar, empurrando os transeuntes, agarrou Breank e levou-o para um beco.

Prot’Gar havia instruído as duas prostitutas nelesenses para distraírem Ivan Despair por alguns momentos.

— Oh não! Agora você vai me matar também, gemeu Breank.

— Eu não mato! Nós também não somos responsáveis pelo assassinato de Eddie Alaban e Ron Horace. Incrédulo, o médico olhou para o Cavaleiro das Profundezas.

— Então quem?

— Nós suspeitamos que Cau Thon está por trás disso. Ele fez algo com o pequeno Cauthon. Examine-o. Verifique o DNA de Cauthon. Algo está errado com o menino. Isso é culpa do Cau Thon.

— Eu examinei Cauthon após o nascimento. Ele é totalmente saudável... eu...

Breank hesitou.

— O quê? — perguntou Arib’Dar e pressionou o médico contra a parede. Ele não queria forçá-lo, mas o tempo era premente.

— Eu, obviamente, não realizei análise de DNA. Para isso, o pessoal do hospital nelesense não estava preparado. Eu preferi utilizar a nossa medicina moderna apenas para vacinar Cauthon contra a infecção e dentição. Ele parecia tão saudável.

— Examine-o com o seu equipamento. Não com os dos nelesenses e não com os de Cau Thon. Reinstale o seu programa de segurança para impedir manipulações no seu dispositivo. Procure anormalidades. De nós não há perigo iminente, mas o seu inimigo é alimentado no seu seio!

— Meu seio?

Arib’Dar revirou os olhos. Essa não era uma metáfora terrana? Ele exagerou.

— Informe-se mais. Entre em contato conosco novamente amanhã à noite neste local. E nem uma palavra ao Despair. Ele não entenderia. Ainda não.

Breank assentiu. Arib’Dar deixou-o ir. Ele não sabia se tinha sido convincente o suficiente.

— Volte para o Despair — disse Arib’Dar bruscamente e se afastou. Sem olhar para trás, o Cavaleiro correu na direção oposta e desapareceu na outra rua lateral. Sacos plásticos de lixo estavam empilhados ao lado. Não era uma área muito convidativa. Inclinou-se contra uma parede e respirou, exausto da corrida, com a respiração profunda.

Agora ele tinha que esperar para ver se Breank iria ouvi-lo.

***

O doutor Honorius Breank trabalhou também em horas extras. Ele manteve um comportamento muito estranho e contido à noite em relação a Cau Thon. Mesmo em comparação com os colegas ele tinha sido taciturno.

Já no final da noite ele tinha feito um exame em Cauthon. Ele a tinha acalmado e disse a Selina que estes eram exames puramente de rotina. Ele só queria ter certeza de que o bebê estava adaptado ao ambiente de Neles.

Então Breank havia optado por ir para a HAWKING via transmissor de curto alcance para verificar os resultados. Cau Thon preocupou-se pelo fato de o médico ter reinstalado seu equipamento, como se soubesse das novas entradas do banco de dados da sintrônica. Por que alguém não confiaria nesta tecnologia? Será que ele descobrira o vírus?

Arib’Dar devia tê-lo avisado. Um movimento inteligente deste Cavaleiro das Profundezas.

Ele estava sentado lá há horas, pensando sobre alguma coisa. Cau Thon o observara pelas câmeras da HAWKING. A sintrônica era controlada inteiramente pelo seu vírus e apresentava regularmente relatórios sobre as atividades do médico.

Cau Thon esperou até que os Despair tivessem ido para a cama. Agora ele estava de volta à KARAN, observando o médico.

Rapidamente tudo ficou claro para o Filho do Caos, depois da pesquisa de Breank. Ele analisou o DNA de Cauthon. Breank obtivera uma indicação de Arib’Dar, pois Cau Thon calculava que o homem não era tão inteligente e consciente assim.

Breank ficou surpreso quando ele aparentemente percebeu a magnitude. Ele esfregou os olhos, recostou-se na cadeira e recuperou-se respirando pesadamente. Agora, ele devia ter entendido que a estrutura do DNA da criança não correspondia totalmente a uma criança normal terrana.

O que o bom médico iria fazer agora? Ele despertaria o par amoroso de seu sono merecido, a fim de arrancá-los de sua doce esperança e enfrentar a amarga realidade? Devia ele falar com seus clientes? Para Cau Thon ficara claro que o Cavaleiro das Profundezas estava por trás dessa descoberta.

Não, o bom Breank não iria perturbar os Despair. Os segredos deveriam permanecer obscuros. Cau Thon assumiu o controle da sintrônica a bordo da HAWKING. Primeiro, ele aumentou a temperatura da sala, definiu uma umidade baixa e deixou o médico suar.

Este tentou agora ajustar o climatizador manualmente. Quando ele viu que não funcionou, bateu com raiva no console. Ele chamou a sintrônica e reclamou. A sintrônica respondeu que todas as temperaturas estavam em ordem.

Foi maravilhoso ver o homem confuso. Ele limpou o suor da testa, copiou os resultados num dispositivo de armazenamento de dados e deixou o laboratório.

Seu caminho levou-o diretamente para o dispositivo antigravitacional, cujo controle agora Cau Thon assumira. Primeiro ele deixou Breank pairar perto da sala do transmissor, então ele colocou a gravitação para a normal. Gritando, Breank caiu. Cau Thon desativou as redes de segurança e campos de força. Breank bateu rudemente no chão do andar de baixo. Ossos se quebraram, mas Breank ainda estava vivo. Cau Thon não o tinha classificado como tão tenaz.

Cau Thon assumiu o controle de um robô e lhe ordenou que voasse para o poço antigravitacional. Cau Thon colocou a gravidade ao máximo. O robô desativou o propulsor e caiu no poço.

O doutor Breank gritou mais uma vez e ele foi esmagado pelo impacto do robô.

Assim, restavam apenas cinco camelotianos.

Capítulo 14

Confronto

Inclusão de Ivan Despair no diário de bordo

14 de novembro de 1264 NCG

Honorius Breank estava morto! Um acidente terrível tinha acontecido. Um defeito no poço antigravitacional o tinha matado.

Teria sido um mau funcionamento ou estariam os agentes arcônidas por trás disso?

Nós não sabíamos e nos sentíamos inseguros em Neles. Na HAWKING não tínhamos certeza. Mas nos colocaria pelo menos mais perto de Camelot. Teríamos que proceder com cautela, e usar os robôs de combate, para que pudéssemos sobreviver ao voo sem danos.

Selina me pediu — e eu estava com muito medo por ela e nosso filho. Os arcônidas queriam nos matar. Tínhamos que sair daqui e não podíamos esperar a chegada de Atlan.

A decisão está clara: nós saímos hoje. Vulitaar Ockguuhn e Dytch foram informados. Eles deveriam verificar novamente todas as definições a bordo, enquanto esperávamos a autorização de Camelot.

Três robôs de guerra do tipo MODULA garantiam o nosso trabalho, enquanto mais quatro robôs de trabalho esvaziavam a estação. A despedida me doía, mas não tivemos escolha.

Eu informei o presidente da Organização Mundial da nossa partida e pedi cautela à frente de outros estrangeiros. Nós tínhamos falhado completamente e eu senti a surpresa e desapontamento por parte dos nelesenses. Nós os deixamos na mão, talvez abrindo o caminho para os arcônidas ou o Fórum Raglund. Talvez a LTL estivesse por trás disso? Quem poderia saber? Sob a direção de Buddcio Grigor e seu sucessor Medros Eavan, a LTL tinha mudado para muito pior.

A LTL tinha que estar mais forte e melhor do que o Império de Cristal. O Serviço da Liga, fundado em 1262 NCG na vigência da Primeira Terrana Eavan, era provavelmente a LTL2 do Tu-Ra-Cel3 arcônida e intrometia-se assim sobre os direitos dos seres da Via Láctea.

Mas o que nós poderíamos fazer contra essa violência temerária? Deveríamos enviar agentes especiais e tropas armadas para Neles? Nós não queríamos ocupá-lo. A violência dos poderes tão altamente civilizados da Via Láctea tinha vencido.

Parabéns, eles mataram o Galacticum! Viva a crueldade da comunidade galáctica de nações. Em breve, empresários inescrupulosos da LTL, agentes secretos do Fórum Raglund e soldados do Império de Cristal cairão sobre Neles e os nelesenses para tirar a sua liberdade e independência.

Nós tínhamos falhado. Como eu poderia enfrentar os olhares de Perry Rhodan? Eu sabia que nunca mais também veria Neles. Demasiado grande era a vergonha. Mas eu tinha que pensar em minha família e suspender qualquer outro risco para Selina e Cauthon.

Isso foi um pouco demais para mim.

***

Breank estava morto. Ribwan interceptou uma mensagem de rádio da HAWKING para a estação em Neles. Cau Thon tinha executado outro camelotiano. Agora, os cientistas queriam sair, mas Arib’Dar estava com medo de que o Filho do Caos não permitisse.

Prot'Gar verificou em silêncio seus equipamentos. Arib’Dar raramente vira seu amigo tão silencioso como nestes dias. Todos a bordo da TERSAL estavam atormentados com as consequências de suas ações.

Eles ignoraram a sua missão de assassinar Cauthon Despair. Deixaram então a sua Ordem de Cavaleiros e os povos da galáxia Shagor em grande perigo — e o que aconteceria, após a sua insubordinação, à Via Láctea?

Mas eles não eram assassinos que sem pensar executavam um comando de matança. Certamente que não, uma vez que era uma criança. Eles tiveram um longo tempo desperdiçado. Antes do nascimento, que poderia ter sido possível convencer com desculpas moralmente credíveis. Mas agora que eles tinham visto a vida, a respiração da pequena criatura, era impossível matá-la.

Assim, eles prejudicaram a sua própria Ordem, mas acreditaram agir corretamente. Um assassinato de um bebê inocente era injustificável. Tinha que haver outra solução.

Eles também acharam esse Cau Thon! Ele provavelmente tinha realizado uma manipulação genética da criança. Acercou-se como uma mãe sobre os Despair e estava fisicamente e mentalmente forte o suficiente para liquidar Eddie Alaban e Ron Horace.

E ainda assim eles não sabiam quais eram as suas intenções. Quem era o seu mandante? Seria Cau Thon um tipo de obstetra para o Filho do Caos? E eles ainda não sabiam que ele já era um filho do Caos.

Cau Thon provavelmente tinha as respostas. Era pegar Cau Thon e o problema estaria resolvido.

Os camelotianos não iriam extraditá-lo voluntariamente. Eles não acreditariam em Arib’Dar, Prot’Gar e nos dois orbiters. No entanto, Cau Thon estava constantemente perto da camelotiana. Eles tinham que ir para o confronto.

— Ribwan, Ifrukar, venham logo! — Prot’Gar chamou enquanto ajustava o cinto e verificava as configurações técnicas dele.

O ghannakke e o katrone atenderam a ordem do Cavaleiro. Sentaram-se ao lado de Prot'Gar e Arib’Dar.

— Sabemos muito pouco sobre Cau Thon, mas eu sei que não devemos subestimá-lo. É por isso que temos de lutar todos os quatro contra ele. Se tudo correr bem, vamos agarrá-lo e interrogá-lo. Se tudo der errado, então...

Prot’Gar permaneceu em silêncio.

— Então nós teremos os camelotianos e Cau Thon como inimigos — concluiu Ribwan.

— Nós já discutimos todas as opções. Verifique as suas armas, então vamos embora.

Arib’Dar considerava que o tempo de falar acabara. Eles tinham de agir. Ele queria que fosse assim. Quanto mais cedo terminassem, melhor. Ele ansiava pelo Domo dos Cavaleiros das Profundezas. Ele sentia falta da sua casa na montanha, de onde podia ver o vale com a cúpula. Faltava-lhe o som do riacho, o ondulado suave encosta abaixo que levava para o pequeno lago ao lado do Domo.

É possível que este sentimento resultasse por ele se sentir desconfortável nessa situação em Neles.

Depois que seus três colegas terem verificado seu equipamento, eles deixaram a TERSAL.

Seu objetivo era a estação dos camelotianos.

***

A noite estava abafada.

Ifrukar e Ribwan gemiam sob o clima desagradável. Arib’Dar espantou outros pensamentos da cabeça. Eles estacionaram o planador numa clareira.

Seriam duzentos metros a pé até a construção dos camelotianos. As assinaturas de energia de sete robôs foram exibidas nos localizadores nos pulsos de três criaturas.

Cau Thon aparentemente não estava entre eles, a não ser que ele tivesse ativado o campo de camuflagem. Então ele estava esperando a chegada dos cavaleiros na sua nave. Eles tinham que ter cuidado.

— Vocês ficam para trás — decidiu Arib’Dar.

Ele caminhou lentamente até o caminho de areia para o escritório camelotiano. Já dava para perceber a luminosidade dos robôs de longe. Os robôs de combate perceberam Arib’Dar e se aproximaram.

— Eu venho em paz e desejo falar com Ivan e Selina Despair — falou Arib’Dar e levantou as mãos.

Assim que ele percebeu que o robô levantou o braço armado, sem hesitar, Arib’Dar ativou seu campo defensivo individual. Como já esperado o campo defensivo absorveu o tiro. O cavaleiro sacou a espada de carit e atirou no braço armado, mas o campo defensivo impediu qualquer dano. Arib’Dar tirou seu radiador e ativou o fogo constante levando o campo defensivo a um colapso. O próximo tiro destruiu o robô de combate.

Dois outros robôs deste tipo chegaram flutuando. Arib’Dar pediu ajuda. Dentro de poucos segundos, Prot’Gar, Ribwan e Ifrukar apareceram. Eles dispararam sobre os dois robôs de combate dos camelotianos.

Eles não viram outra saída a não ser destruí-los. Arib’Dar se perguntava o motivo que os levou a atirar. Tinha os camelotianos tanto medo deles? Não havia uma lei para os robôs que proibia a matança de seres humanos? É claro que havia programação contrariando tais atitudes. E claro que os robôs de combate eram geralmente usados para lutar. Mas eles não deveriam ser ajustados com a definição supostamente pacífica dos cientistas de Camelot?

Após alguns segundos de luta, os robôs de combate se haviam retirado. Houve uma trégua.

Arib’Dar rastejou em direção ao prédio. Ele sabia que o transmissor estava anexado a ele. Os camelotianos então tinham que vir através do quintal. Portanto, os robôs de combate, aparentemente, garantiam o caminho.

— Despair, eu quero falar com você. Nós não queremos fazer qualquer coisa a você, mas o robô abriu fogo primeiro. Você encontra-se em grande perigo. Cau Thon é seu inimigo!

— Você mente! Vocês são nossos inimigos, arcônidas ou de onde quer que venham.

— Nós não viemos de sua galáxia. Nós trabalhamos para os Cosmocratas. Devemos impedir a chegada e o trabalho de um filho do Caos. Infelizmente... infelizmente isso tem algo a ver com você.

Silêncio.

— Nós não acreditamos em você. Desapareça! — gritou Ivan Despair. Arib’Dar reconheceu a voz.

— Nós faremos, mas só depois que você estiver na sua espaçonave. Sabemos que você está desconfiado, mas não podemos deixá-los com Cau Thon. Ele quer matar todos vocês.

— Ridículo! Ele sabia que você atacaria hoje. É por isso que nós colocamos os robôs em estado de prontidão.

Por que os camelotianos eram tão teimosos? Como poderia Arib’Dar convencê-los de uma vez? Ele trocou olhares com Prot’Gar. O elare parecia tão perplexo...

— Onde está Cau Thon? — perguntou Prot’Gar.

— Aqui!

Instintivamente Arib’Dar se virou. Atrás de Ifrukar apareceu uma cintilação azul acinzentada. Cau Thon apareceu numa fração de segundo junto a eles. Antes que Arib’Dar pudesse advertir seu orbiter, Cau Thon enfiou a sua haste de carit através das costas do ghannakke. A ponta perfurou o peito.

Arib’Dar estava impotente. Ele viu seu orbiter morrer.

— Cuidado — gritou Prot’Gar.

Agora dois robôs de combate atacaram novamente. Arib’Dar não se importava, ele investiu contra Cau Thon. Por isso ele levantou a sua haste de carit e cortou ao meio o ghannakke. Arib’Dar sentiu náuseas e manteve distância — um erro, porque Cau Thon passou correndo por ele e atacou. O Cavaleiro defendeu-se com dificuldade.

Prot’Gar e Ribwan estavam ocupados com os robôs, enquanto Arib'Dar ficou surpreso com o poder e a habilidade de ataques de Cau Thon. Ele ficou rapidamente sem fôlego. Suor escorria pela testa, seus joelhos tremiam. O Filho do Caos atacava vigorosamente. Finalmente Arib'Dar conseguiu atacar. Ele abaixou-se sob um golpe e girou a espada. Ele atacou Cau Thon no flanco. O vermelho caiu no chão e rolou agilmente.

Arib’Dar viu que Despair e Darvynia correram para a sala de transmissores. Era possível que eles estivessem indo para a sua perdição.

Onde estava Cau Thon? Ele desapareceu na escuridão da noite. Arib’Dar ajudou Prot’Gar.

Juntos, eles destruíram um dos robôs de combate. Um segundo tiro saiu de uma cobertura perto do edifício transmissor contra eles.

— Vamos cercá-lo. Ribwan, você atira daqui. Prot’Gar vai para a esquerda, eu vou para a direita.

O orbiter deu-lhes fogo de cobertura. Arib’Dar escolheu o lado direito, porque ele suspeitava que Cau Thon estava lá. Ele correu o mais rápido que pôde, atingindo a parede da casa do escritório de Camelot. Ele estava completamente sem fôlego e tremia. Eles tinham que agir juntos agora! Seu corpo tinha que obedecer a sua vontade. Só desta forma eles tinham uma chance.

Quando ele ouviu um grito ele olhou para trás.

Cau Thon estava junto a Ribwan. Ele repetidamente esfaqueava o katrone.

— Não — gritou Prot’Gar e pulou para fora de sua cobertura.

Ele queria salvar Ribwan, mas já era tarde demais.

Os robôs de combate!

Arib’Dar puxou o radiador e disparou, mas Prot'Gar foi atingido por rajadas de energia. Seu amigo e companheiro Cavaleiro entrou em colapso. Arib'Dar correu para o robô de combate. Finalmente o campo defensivo piscou e em seguida desabou. Após o próximo tiro o metal explodiu numa luz resplandecente.

Arib’Dar não teve tempo para descansar. Ele correu para Prot’Gar. O elare estava caído de cara no chão. Na parte da parte de trás da cabeça, ligeiramente enegrecida. Arib’Dar ficou enjoado com o cheiro de carne queimada. A visão da cabeça carbonizada, de cabelo chamuscado e buracos no cérebro, Arib’Dar nunca se esqueceria em sua vida.

Prot’Gar estava morto!

Arib’Dar caiu de joelhos e estava desesperado. O que tinha acontecido? Por que tudo tinha dado errado?

Por que Ifrukar não tinha ativado seu campo defensivo individual?

Por que ele próprio não contou com o ataque de Cau Thon a Ribwan?

E por que Prot’Gar tinha agido tão violentamente para salvar seu orbiter?

— Este katrone era uma criatura impressionante. Mas ele não era um guerreiro. Você enviou um exército de fracos contra mim para a batalha. Você não é verdadeiramente um Cavaleiro das Profundezas — disse Cau Thon calmamente.

— Certa vez, encontrei um verdadeiro Cavaleiro das Profundezas. Ele era um bom adversário. Agora ele está morto e eu tenho a sua espaçonave. Talvez eu deva acrescentar a sua nave à minha coleção?

Arib’Dar levantou-se mecanicamente e agarrou o cabo de sua espada de carit.

— Nunca! — disse ele, embora não sentisse nada no momento. Ele estava vazio. Ele não sentia nem mesmo raiva por Cau Thon. Ele estava muito fraco. Alquebrado!

Cau Thon iria matá-lo!

Ele tinha falhado. Arib’Dar desapontou ao Cosmocrata SIPUSTOV e deixou seus amigos morrerem. Ele tinha trazido vergonha para a Ordem dos Cavaleiros de Shagor. A sua morte seria apenas o justo castigo. Cau Thon pegou um radiador e disparou. Arib’Dar não se defendeu. O feixe de energia o envolveu. As pernas se tornaram fracas e ele caiu no chão.

Mas ele sobreviveu.

Paralisia! Cau Thon o havia aleijado.

— Bem, meu caro e pretensioso Cavaleiro das Profundezas, outras tarefas estão esperando por mim. Nos vemos novamente. Eu vou deixá-lo sozinho com seu sofrimento, as desculpas e a vergonha… e muita diversão, para explicar ao Cosmocrata. Sei, por experiência própria como eles são compreensivos...

Cau Thon deu um tapinha na cabeça de Arib’Dar, depois se afastou. Cau Thon tinha escolhido o pior castigo para Arib’Dar.

Ele o havia deixado vivo.

Capítulo 15

O Caçador

Ivan e Selina Despair tinham fugido com seu filho e Darvynia para a HAWKING. Eles levaram a blue com o nome impronunciável, e o unitro Dytch.

Cau Thon havia retornado para a KARAN e analisou o cenário através das câmeras de bordo da HAWKING. Sentia-se como um diretor. O filme seria chamado de “O Caçador” e os protagonistas estavam na HAWKING.

Cau Thon inclinou-se profundamente em sua cadeira de comando e via as diferentes imagens ao vivo no grande holograma tridimensional.

O unitro Dytch estava na casa de máquinas enquanto Ivan Despair e o blue Vulitaar Ockguuhn sentavam-se no centro de comando e preparavam a partida.

Darvynia e Selina Despair permaneceram na sala comunitária, no convés mais interno. A mãe preocupada segurava seu bebê protetoramente em seus braços.

— Como pôde tudo isso acontecer? — perguntou Selina.

— Não se preocupe, querida! Estamos seguras. Cau Thon provavelmente já dominou os agentes arcônidas.

— Por que ele não responde? E eu não quero esperar de qualquer maneira. Vamos agora e deixemos este sistema. Nós iremos num curso direto para Camelot.

Darvynia encarou Cauthon. Em seus olhos havia um desejo pela criança.

— Posso segurá-lo?

Selina apertou o bebê mais junto de si e balançou a cabeça.

— Só um momento — pediu a ferrônia.

— Não! Agora temos outros problemas!

Selina se levantou e andou inquieta pela cabine. O pequeno Cauthon gemeu baixinho. Ela o balançou em seus braços e lhe deu um beijo.

Que cena comovente.

Cau Thon alterou para “emissor” e ampliou a exibição da casa de máquinas. Lá estava o trombudo e verificava as funções do propulsor.

Cau Thon meditou, batendo com o dedo em torno no braço. Dytch informou Despair e Ockguuhn que o propulsor estava pronto. Era hora de levar o capítulo ao final. Cau Thon deu à sintrônica de bordo o comando para desativar o propulsor. Em seguida, ele deu aos dois robôs de combate TARA V UH comandos com a finalidade de liquidar os membros restantes da tripulação.

***

— Servos, tragam-me algo para beber e uma pequena refeição. Apressem-se, o programa de manutenção começa — Cau Thon ordenou a seu zievohne.

O ser com capuz serviu-lhe uma bebida quente e biscoitos. O robô de combate flutuou pelo centro de comando da HAWKING.

Despair e o blue se comunicaram via rádio com Dytch. Eles ficaram intrigados com a causa da falha de energia. Cau Thon mordeu com satisfação um pastel delicioso enquanto o robô TARA V-UH dirigia o braço armado contra Despair e Ockguuhn.

O blue gritou. Agora Despair também virou-se. Ele empurrou Ockguuhn para o lado e saltou para trás de um console. Os robôs abriram fogo. O pânico tomou conta do blue. Não encontrou nenhuma proteção real e foi morto pelas rajadas de energia.

Despair respondeu com o seu radiador térmico ao fogo. Ele falou à Selina e Dytch que fossem para a sala de segurança.

— Vão para a sala de segurança. Corram!

Cau Thon ordenou a um dos robôs de combate para pegar imediatamente os outros. Dytch saltou para o poço antigravitacional e já tinha alcançado a sala comunitária. Ele agarrou Selina e Darvynia que gritava histericamente e correu com elas para o espaço esférico de segurança.

— Entrem rápido!

O robô TARA havia chegado. O unitro correu destemido e de forma bastante estúpida. O robô ativou a sua faca vibradora. Dytch correu direto para ele. Sem parar o robô caminhou através do corredor manchado de sangue do unitro.

E as duas mulheres correram para o quarto gritando em pânico. Tão perto e tão longe. O TARA já as tinha quase apanhado, mas ele não disparou. Isso era muito perigoso. Ele não estava autorizado a atingir Cauthon.

A criança não poderia ser prejudicada. Mesmo a paralisia era muito perigosa para o jovem descendente.

Assim, as duas mulheres chegaram com o bebê à sala de segurança e trancaram-na hermeticamente. O campo defensivo e o aço espesso da cabine garantiam a segurança. Aqui eles estavam a salvo do robô TARA-V-UH. Que pena!

O abrigo tinha sido criado como cápsula de salvamento. Ele tinha a sua própria fonte de alimentação, uma sintrônica isolada, tanques de oxigênio, alimentos e água, bem como um módulo de controle. A câmera no quarto era a única coisa que Cau Thon tinha o controle.

Selina respirou fundo.

— Querida? — ressoou de sua pulseira de comunicações. — Querida, você está viva? Entre em contato!

— Ivan — Selina gritou no comunicador. — Estamos na sala de segurança. Nós estamos bem. Onde você está?

— Enviei um sinal de socorro para Atlan, mas o robô está bloqueando o rádio. Eu tenho medo que venha a destruí-lo. Você está segura. Eu vou até você!

— Esconda-se até Atlan aparecer!

— Isso não vai funcionar. O robô sabe onde estou. Eu estou tentando pegar meu SERUN.

Cau Thon colocou os hologramas do centro de comando e sala de segurança, um ao lado do outro. Selina gritava enquanto Ivan rastejava relutantemente por trás do console.

— Eu amo você — sussurrou Selina e se agarrou a Cauthon. Para Ivan, faltavam três metros para chegar à cabine, na qual estava o SERUN.

Ivan Despair hesitou. Ele avaliou, na verdade, as suas possibilidades. Aquele idiota! O TARA V UH tinha um extenso arsenal. Sim, essa pequena centelha de esperança divertiu Cau Thon. Uma e outra vez, parecia que Ivan Despair saltaria para fora de sua cobertura, mas, no último momento, ele parou.

O suor escorria da sua testa, os olhos apertados, o rosto tenso. Em seguida, ele pulou.

Um metro.

Dois metros.

Tiro!

Ivan Despair foi desintegrado.

***

Em desespero flagrante, Selina Despair bateu várias vezes no touchpad do seu dispositivo de comunicação. Lágrimas rolavam por suas bochechas, apesar de ela chamar Ivan, ele não respondia. Ela não vira que o marido fora aniquilado, mas ela sabia que ele não estava mais vivo.

— Só restamos nós três — observou Darvynia e acariciou Cauthon. Ele estava agora numa das camas de emergência e dormia. Darvynia sorriu. Ela parecia genuinamente feliz. Em contraste, Selina soluçou pelo marido morto.

— Dorme criança, dorme — sussurrava a ferrônia suavemente. Então ela virou-se para Selina.

— Nós vamos apenas esperar pela chegada de Atlan. Então tudo vai ficar bem, querida!

— Vai ficar tudo bem? — reagiu Selina Despair.

Inexpressivamente olhou para a amiga.

— Ivan está provavelmente morto. Todos os outros estão mortos. Nada vai ficar tudo bem. Como você pode ser tão ingênua?

Irritada, Selina levantou e andava sem parar pelo alojamento.

Ela passou as mãos através de sua cabeleira loira. Parecia que ela queria arrancar os cabelos. Darvynia foi para a cozinha da cabine. Aparentemente, ela fazia um levantamento dos utensílios da cozinha. Ela brincou com as facas.

— Eu vou fazer agora algo delicioso para comer. Será que tem fruta fresca nas rações de emergência?

— Definitivamente não. Além disso, eu não estou com fome. Como pode você pensar nisso agora?

Selina tinha obviamente se virado para a ferrônia. Ela olhou para o Cauthon dormindo.

— O pânico não nos ajuda. Poderia vir aqui, por favor?

Selina suspirou.

— O que foi?

Darvynia virou-se e enfiou as duas facas no abdômen da terrana. Selina borbulhava e olhou para a sua amiga com os olhos arregalados.

— Cauthinho agora pertence a mim. Ele me prometeu.

Selina cambaleou para trás. Darvynia pegou outra faca. Selina estava fraca demais para lutar. Ela esfaqueou a mãe de Cauthon no pescoço. De novo e de novo.

O pequeno Cauthon desatou a chorar. Era possível que ele tivesse sentido a morte de sua mãe.

Darvynia – suja com o sangue de sua melhor amiga – levantou-se, esticou os braços no ar e gritou: — Cau Thon!

Ele riu. Ela realmente tinha conseguido. Todas as belas palavras usadas com esta frágil mulher não tinham sido em vão. Cau Thon escolheu uma das comunicações internas do teclado e respondeu à Darvynia.

— Você foi excelente. E o menino está bem?

Ela olhou para Cauthon que ainda estava chorando. Ela queria pegá-lo no braço, mas parou ao perceber que estava coberta de sangue.

— Eu vou ficar bem, meu querido, meu pequeno Cauthinho. Mami tem que se lavar.

— Abra a sala de segurança. A espaçonave está totalmente disponível a você — Cau Thon disse a sua assistente.

Ela assentiu com a cabeça às pressas e desativou os mecanismos de segurança. Ela correu para fora passando pelo robô de combate TARA-VUH e aparentemente procurando por um chuveiro.

— Você me ouve, ai Cau Thon? Você me ouve?

— Eu ouço e vejo você.

Ela riu enquanto entrava no banheiro e se despia. O Filho do Caos não chegou a dar um olhar mais atento. Ela entrou no chuveiro e lavou o corpo azul com inocência.

Mas Cau Thon não tinha mais uso para esta criatura. Ela tinha servido ao seu propósito. Ele mandou o robô de combate TARA-V UH eliminar a ferrônia.

A criatura de metal penetrou no espaço molhado e apertado, ativou a sua faca vibratória e terminou num momento com a desagradável vida de Darvynia.

Pelo menos, Cau Thon pôde usar essa testemunha irritante. Estava feito. Ele deu à sintrônica o curso para Camelot. Então ele começou a formatação da mídia de armazenamento e excluiu todos os dados relevantes.

Os diários de bordo dos Despair. As gravações de vídeo. Removeu todos os vestígios do vírus. Os organismos ou seus restos mortais foram desintegrados. Os robôs limparam os corredores e alojamentos. Uma vez que a HAWKING atingisse Camelot, ela iria se destruir.

Cau Thon deu uma última olhada a transmissão da câmara de segurança. O robô cuidava do pequeno Cauthon Despair.

— Adeus, meu irmão do Caos. Nossos caminhos se cruzarão novamente dentro de alguns anos. Eu cuidarei de você — prometeu Cau Thon e terminou a ligação com a HAWKING.

Alguns momentos depois, a sintrônica sob seu comando levou a sua nave para o hiperespaço.

Capítulo 16

O nascimento de um novo Caos

A KARAN deixou o sistema solar do planeta Neles. Este mundo tinha desempenhado o seu papel cósmico. Presumivelmente, haveria investigações dos agentes de Camelot. Mas eles não descobririam nada.

Seu nome seria mencionado, mas os camelotianos já o conheciam através dos comunicados de Ivan Despair. Perry Rhodan também poderia saber tranquilamente do nome Cau Thon e não saberia se era um amigo ou inimigo. Em algum momento ele adquiriria alguma certeza.

Silencioso como uma sombra, um zievohne aproximou-se do Filho do Caos e sussurrou em seu ouvido que Rodrom queria falar com ele.

Cau Thon entrou numa sala vazia, onde havia apenas um projetor de hologramas.

Como se ela fosse Rodrom em pessoa, a sua imagem cintilou avermelhada.

— Nosso mestre está satisfeito. Pessoalmente, eu estou impressionado com o massacre, mesmo que você tenha procedido com muito cuidado.

Cau Thon se curvou em silêncio. Rodrom provavelmente teria dizimado todo o planeta, onde ele teria comemorado a destruição de toda a vida em Neles numa orgia de violência.

Mas isso não correspondia à mentalidade de Cau Thon. Ele era um caçador. Tinha sido um desafio desenvolver um plano para remover gradualmente os cientistas camelotianos do caminho.

Certamente eles não eram páreo, mas as suas mortes foram necessárias. E sim, em comparação com Rodrom ele fora — como se expressariam os camelotianos mesmo? — humano como eles.

— O que será do jovem Cauthon Despair?

— Ele vai seguir o seu caminho, Cau Thon! Você vai assistir de longe por ele e garantir um ajudante para os nossos interesses nesta galáxia. Você será capaz de encontrar muitos sedentos de poder e de natureza corrupta na Via Láctea e usá-los para nossos propósitos.

Uma galáxia espiral diferente cintilou ao lado de Rodrom.

— Mesmo o Império Dorgon estará entre os nossos aliados.

Dorgon — DORGON?

A fenda de visão de Rodrom agora brilhou verde e amarelo. Um sinal de que ele estava se divertindo. Algo muito raro.

— Que satisfação ganhar um povo auxiliar de nosso inimigo para nós, hein? Você vai viajar em poucos anos para Dorgon e falar com o Imperador. Ele vai nos apoiar em nossos planos na Via Láctea.

— Como você quiser, meu senhor!

— Nós agora plantamos as sementes para uma tempestade que um dia varrerá Perry Rhodan. E assim, chegaremos diante nossos adversários. Antes que Rhodan possa pedir ajuda, este arrivista já estará desintegrado em cinzas.

O holograma de Rodrom extinguiu-se.

As suas instruções tinham sido claras. Ele partiu para a distante galáxia Dorgon. Ele tinha muito o que fazer pela Via Láctea. Antes ele tinha de construir uma organização e encontrar ferramentas que estariam disponíveis ao futuro filho do Caos, Cauthon Despair, em sua luta contra Perry Rhodan.

Epílogo

Em 23 de novembro de 1264 NCG, uma nave espacial fantasma atingiu a órbita de Camelot, o antigo mundo dos livres-mercadores de Fênix.

Perry Rhodan imediatamente percebeu o que era quando soube o nome da espaçonave. Era a HAWKING. A espaçonave que por alguns dias desaparecera do mundo Neles.

O destino do resto da tripulação era incerto. Não havia nenhum traço de Ivan e Selina Despair, da ferrônia Darvynia, do blue Vulitaar Ockguuhn e do unitro Dytch.

No entanto, havia um milagre a bordo. Em meio ao silêncio assustador, os homens e mulheres de Camelot ouviram, enquanto revistavam a espaçonave, o choramingar fraco de uma criança.

Na sala de segurança da HAWKING encontraram um bebê com menos de dois meses de idade, que tinha sido cuidada por um robô médico e um robô de serviços gerais.

O robô médico relatou que era Cauthon Despair, o filho de Selina e Ivan Despair. Esta criança era aparentemente o único sobrevivente.

O banco de dados da sintrônica da HAWKING estava vazio. O computador tinha sofrido um dano irreparável. Com exceção dos dois robôs que tinham tomado conta do pequeno Cauthon, todos os outros seres artificiais estavam destruídos.

O que tinha acontecido? Devido aos últimos relatórios dos camelotianos, apontavam como suspeitos os agentes do império de cristal pelo desaparecimento dos cientistas.

Após quatro mortes que Ivan Despair já havia relatado, ninguém tinha esperança pela sobrevivência das pessoas desaparecidas.

Mas ainda havia a questão do motivo. E o que tinha acontecido com o amigo dos Despair, o estrangeiro Cau Thon?

Talvez essas perguntas nunca fossem respondidas. A prioridade era acolher o pequeno Cauthon Despair, pelo menos para Perry Rhodan.

A irmã de Selina Despair vivia com o marido também em Camelot. Enquanto Selina tinha seguido os imortais por idealismo, o que motivou Ivy e Tuzz Genero irem para Camelot foi pragmatismo puro. Eles eram os parentes mais próximos do órfão.

Perry Rhodan colocou Cauthon Despair sob a custódia de seus tios e prometeu permitir depois a formação do menino na Academia da Frota de Port Arthur. Possivelmente, o imortal se sentiu parcialmente responsável com o destino de Cauthon Despair.

***

Eu fiquei, através de meus contatos em Camelot, ciente deste evento. Foi apenas uma falha, uma triste tentativa de introduzir uma ponta de lança na comunidade da Via Láctea? Teria sido a sede de poder dos principais grupamentos políticos, a LTL, o Império de Cristal e do Fórum Raglund tão forte que um grupo de oito membros de cientistas tivesse que morrer e que crescesse uma criança sem pais?

Ou talvez houvesse mais por trás disso?

Quem era esse misterioso Cau Thon, que aparentemente era o salvador do homônimo Cauthon Despair?

Ele era um amigo ou um inimigo?

Jaaron Jargon, em novembro 1264 NCG

FIM

Com o nascimento de Cauthon Despair, um novo filho do Caos foi trazido ao mundo. Mas o pequeno Cauthon nada suspeita de sua nomeação e de sua trajetória futura.

No Volume 2, Nils Hirseland retrata o destino de um jovem sob o seguinte título:

UM GAROTO CHAMADO CAUTHON DESPAIR.

Comentário4

Sobre o autor

Em 20 de junho de 2011 Nils Hirseland, o “inventor” e autor principal da série Dorgon publicou nas páginas redesenhadas da PROC, a seguinte mensagem:

— Há novidades sobre a série Dorgon. Conforme anunciado anteriormente, estou atualmente trabalhando numa edição especial da série em edição 1. Com os primeiros romances não estou satisfeito com o conteúdo e estilo. É por isso que eu tenho a chance de rever a série novamente desde o início

Assim disse Nils Hirseland, o inventor da série Dorgon. As mudanças, no entanto, não modificam a história completamente, não como um romance “Ralf König”5 seria. Em vez disso, as cenas serão simplificados e revisadas, em alguns pontos da história por Nils Hirseland, mas também mudanças na ação serão levadas a cabo, pois o autor vê aqui uma oportunidade de revisar seu próprio trabalho.

O início foi feito com o volume 1. O título provisório é “Nascimento”. É hora de agir somente a partir dos acontecimentos de 1264 NCG, quando o Filho do Caos Cau Thon aparece em Neles, para garantir o nascimento de outro filho do Caos, Cauthon Despair. Aqui haverá cenas adicionais, ele vai se dedicar mais para os personagens em Neles e algumas pessoas novas serão adicionadas. O volume gira em torno do nascimento de Cauthon Despair enquanto os volumes sequentes, serão dedicados exclusivamente ao adolescente Despair.

As mensagens nas páginas do PROC representam o “nascimento” da Dorgon Edição Especial. Este livro de Nils Hirseland agora representa o primeiro volume do projeto DORGON revisto.

***

Abaixo eu gostaria de dar algumas informações de fundo, o que nos levou a tomar esse caminho.

Enquanto isso, o projeto Dorgon compreende exatamente 180 romances (por numeração de idade), que foram escritos durante um período de mais de 10 anos. Durante todo o período o Dorgon manteve-se um projeto de fã puro, ou seja, cada colaborador, seja como autor, designer gráfico ou editor, trabalhou em seu tempo livre no projeto. Para a “linha vermelha” ao longo do período foi Nils o único responsável, que investiu o seu “coração e alma” na continuação do projeto.

Nesse ponto, eu gostaria de expressar o meu apreço a Nils mais uma vez, sem ele, este projeto único para os fãs da série já teria falecido há muito tempo.

Mas voltando ao Dorgon.

Decidimos fazer a tentativa de rever os primeiros cinco ciclos. Estes inteiramente novos livros foram incorporados no início, a fim de preparar os desenvolvimentos futuros. A maioria das mudanças afetou o enredo Mordred e mais tarde o ciclo da Ilha e o ciclo Filhos do Caos. As histórias em M-100 e partes do ciclo de Osíris raramente terão seus conteúdos revistos em tempo para a programação atual.

***

Vocês vão continuar com as “novas” histórias?

Aqui eu posso fazer a declaração clara de que novos romances já estão escritos, ou estão em andamento. As novelas a seguir sobre os “velhos 180” formam a transição para o ciclo final.

Prevê-se a continuação após a revisão e publicação da Edição Especial e as novas versões em outubro de 2012, o ciclo RIFF.

***

Finalmente, eu ainda quero apelar a todos os leitores para: permanecerem fiéis ao projeto Dorgon velho e novo. As aventuras dos nossos “heróis e heroínas” estão esperando por você, siga Cauthon Despair, Sam, Aurec, Rosan, Joak Cascal, e de la Siniestros, Will Dean, Jonathan Andrews, Kathy Scolar, Eorthor e Elyn e muitos outros personagens novos e antigos em suas jornadas árduas para compreender o mistério dos cosmotarcas e as sinistras maquinações dos Caotarcas e Cosmocratas. Novos e antigos segredos estão esperando para serem descobertos pelos nossos heróis e heroínas.

O tema dos próximos “novos” livros escritos serão primeiro o retorno de um velho conhecido como o diabo (ou MODROR), seus amigos do Riff vem ajudar. Depois nós empregamos nos próximos volumes um mito antigo desde os primeiros dias da Humanidade, a alma ou a constante FSRS de Lilith, a deusa misteriosa da feminilidade e mãe de Lilim se libertou da prisão de milhões de anos através do sacrifício de Maya ki Toushis e quer: vingar-se daqueles que primeiro estupraram seu corpo e depois torturaram a sua mente pelas eras. Isso levanta a questão: termina ela finalmente louca ou ela pode subir novamente ao seu antigo poder e grandeza? Mas a resposta pode esperar um pouco mais a chegar.

Jurgen Freier

***

Glossário

HAWKING

 

Figura 1: A HAWKING por Heiko Popp

A HAWKING é uma nave especialmente projetada com base no cruzador de pesquisa Merz da classe VESTA. Um módulo de laboratório especialmente modificado é usado como configuração de pesquisa. Os dados são de baixo desempenho quando comparados com os normais de naves da classe VESTA, como consequência da configuração especial para pesquisa.

De acordo com o ambiente de implementação, o armamento é reduzido ao mínimo e o comando da embarcação em grande parte automatizado, assim uma tripulação mínima de oito pessoas é suficiente.

A organização Camelot teve durante o período 1235-1291 NCG, dez naves desta classe em operação, que constituiu a base para uma Frota Explorer independente. Depois que a organização Camelot foi dissolvida, a LTL começou, sob os auspícios do ministro residente Bull, a organizar uma Frota Explorer independente.

História

A HAWKING recebeu em 1264 NCG a missão de investigar o recém-descoberto mundo Neles e prepará-los para o contato com as civilizações da Via Láctea. A pequena equipe de Ivan e Selina Despair é pega no início de um conflito cósmico em que nenhum membro da tripulação sobreviveu.

Com os sistemas automáticos de retorno a nave voltou para Camelot. Com apenas a criança Despair, de dois meses de idade a bordo, que foi mantida viva por um robô médico. Antes que as forças de segurança da organização Camelot pudessem examinar mais de perto a nave, o mecanismo de autodestruição foi ativado.

Diâmetro: 100 metros

Armamento: 2 Canhões desintegradores, 2 canhões de impulsos.

Propulsores: metagrav, gravojet e antígravos.

Aceleração 680 km / s² com módulo de laboratório

Fator ultraluz: 50 milhões

Campo defensivo: paratron escalonado simples / campo SAE, campo de repulsão.

Naves auxiliares: 1 nave auxiliar planetária, várias sondas espaciais.

Ocupação: 8 pessoas

Comandante: Ivan Despair

Comandante Adjunto: Ron Horace

Diretor Científico: Eddi Alaban

Cavaleiros das Profundezas de Shagor

Os Cavaleiros de Shagor parecem ser representantes da Ordem dos Cavaleiros das Profundezas que se rebelaram dos Cosmocratas liderados por Jedar Balarn 90 mil anos atrás. Desde aquela época, eles se limitam à proteção da galáxia Shagor, que está a cerca de 325 milhões de anos-luz da Via Láctea.

Na metade do 13º século NCG. O Cosmocrata SIPUSTOV aparece no Domo de Elaran e ordena ao Mestre dos Cavaleiros Arib’Dar a viajar em nome dos Cosmocratas para a Via Láctea e prevenir por todos os meios o nascimento de um “filho do Caos”. Se ele se recusar a realizar esta missão, o Cosmocrata ameaça com a destruição de toda a Ordem dos Cavaleiros de Shagor.

O Mestre dos Cavaleiros, com o coração pesado, viaja para a Via Láctea junto com seu ex-aluno Prot’Gar e dois orbiters. Mas os dois Cavaleiros das Profundezas não conseguem obter muita informação de SIPUSTOV. O Filho do Caos Cau Thon mata Prot'Gar e os dois orbiters, mas deixa Arib'Dar vivo para ameaçá-lo e humilhar. Por fim Cau Thon diz que ele cuidaria da Ordem dos Cavaleiros de Shagor mais tarde.

Ivan Despair

Ivan Despair é o pai biológico de Cauthon Despair. Ele nasceu em 1226. NCG em Nosmos, no sistema de Normon e faleceu em novembro 1264 NCG a bordo da HAWKING.

Despair era um homem tímido e reservado. Ele estudou na Academia Waringer na Terra e conheceu a sua futura esposa Selina. A partir de suas memórias, soube-se que Despair gaguejou assustado quando fez o primeiro convite à Selina. O sorriso e um aperto de mão de sua amada o acalmaram.

 

Figura 2: Ivan Despair, o pai de Cauthon Despair (C) Roland Wolf

Em 1259 NCG os Despair subiram na PHOENIX, uma nave comercial, para se juntar à organização dos imortais de Camelot.

Ivan Despair era o principal cientista e líder da expedição de uma equipe de pesquisa de Camelot. Eles tinham um contrato de prestação de ajuda a nação emergente do planeta Neles. Desde que os nelesenses estavam perto de descobrir um propulsor à velocidade da luz, Despair fez contato, em 1 de maio de 1264 NCG, com eles. A sua esposa Selina naquele tempo já estava grávida. O contato inicial foi extremamente eficiente e os camelotianos estabeleceram uma administração em Neles.

Alguns meses mais tarde, após Selina ter sido vítima de um acidente radiativo, apareceu o estrangeiro Cau Thon e esclareceu que se os Despair não tratassem, o feto seria afetado pela radiação e provavelmente morreria após o nascimento. Os Despair concordaram com uma intervenção médica, no entanto, o DNA da criança foi alterado por um médico zievohne.

Os Despair não sabiam nada sobre o destino de seu futuro filho. Eles adoravam Cau Thon como um salva-vidas e batizaram seu filho após o nascimento com o nome Cauthon. A sorte durou muito pouco, porque Cau Thon começou com o assassinato dos membros camelotianos da expedição. Ele jogou a suspeita nos dois Cavaleiros das Profundezas de Shagor e tinha arquitetado de modo que parecessem ser agentes arcônidas. Ivan Despair suspeitava realmente, mas manteve-se em dúvida.

Quando eles tentaram fugir de Neles, Ivan Despair encontrou a morte na HAWKING. Cau Thon tinha o controle da sintrônica da nave e dos robôs de combate através de um vírus. Um robô TARA V UH desintegrou o pai de Cauthon Despair na noite de 14 de novembro de 1264 NCG.

1Satron é um termo arcônida. É um resumo para as regras gramaticais de linguagem dos arcônidas. O termo é um encurtamento e consiste em três palavras juntas same-arkon-trona. Que em tradução literal, significa “Árcon parece falar!". Devido aos grandes laços culturais e históricos dos arcônidas com Ácon, saltadores, superpesados, aras e inúmeras outras nações, todas essas línguas são muito semelhantes. O Satron é, portanto, a língua franca do Grande Império. Existem variantes da língua comercial Satron-I (intercosmo) e a língua da corte Arkona-I dos nobres. Nota do revisor.

2No original está gelbbrotblaue, azul-vermelho-amarelo, as cores da LTL. Nota do revisor.

3O Tu-Ra-Cel (TRC) é o Serviço de Inteligência oficial arcônida, o “Tussan Ranton Celis” (“Os olhos do Império do Universo"). Seus membros são os celistas. Nota do revisor.

4Jurgen Freier não se limita aqui a comentar somente sobre a edição revista de Dorgon, ele fala sobre o Projeto Dorgon como um todo e tudo que aconteceu num período de mais de 10 anos e que pretendem que aconteça nos próximos. Nota do revisor.

5Um dos mais conhecidos criadores de quadrinhos da Alemanha. Nota do revisor.